"Os Meninos de Ninguém" em Estugarda
15 de novembro de 2016"Os meninos de ninguém" voltam aos palcos depois de mais de 20 anos. Este ano coube a vez ao público de Estugarda, na Alemanha, assistir a esta peça do maior e mais antigo grupo de teatro de Moçambique, o Mutumbela Gogo. No último fim de semana (12 e 13 de novembro) a sala do Theater Tri-bühne tornou-se pequena para tanta gente. A cada dois anos o Tri-bühne realiza um festival e a edição deste ano é em homenagem a Henning Mankell, escritor e encenador sueco, que faleceu a 5 de outubro de 2015.
Mankell foi um dos encenadores dos "Meninos de ninguém" ao lado de Manuela Soeiro, diretora do Mutumbela Gogo. Segundo ela, "foi uma peça em que o Henning esteve envolvido, por outro lado é uma peça carismática do grupo e quisemos, não só a nós mas as pessoas que assistiram que nós moçambicanos também queríamos de uma forma informal dizer obrigado Henning. E o grupo que trabalhou com Henning somos nós e eles [Theater Tri-bühne] pediram-nos para estar cá e participarmos desta homenagem."
Meninos de rua, um problema contínuo
A peça retrata a vida dos meninos de rua na cidade de Maputo na década de oitenta. Moçambique, sob regime socialista, vivia uma guerra civil que fez muitos órfãos e deslocados internos que deambulavam pela capital do país. A luta pela sobrevivência, a violência, os traumas e o amor são representados na peça numa perspetiva bem dura, como a situação exigia.
A diretora do Tri-bühne, Edith Koerber, explica que a peça foi escolhida para o festival porque "foi uma das primeiras encenadas pelo Henning em parceria com o Mutumbela Gogo. E o tema continua atual. E aqui na Alemanha é bem conhecido o livro dele "Der Chronist der winde" em português o "Cronista do vento", escrito depois da encenação dos "Meninos de ninguém" que retrata a vida dos meninos de rua" e Koerber revela: "Esse é um dos meus livros preferidos do Henning Mankel".
Graça Silva é uma das atrizes do Mutumbela Gogo. Participou na sua primeira edição e mais de duas décadas depois volta a encarnar uma das personagens, Nascimento. Graça Silva não tem ilusões quanto a solução para o velho fenómeno dos meninos de rua e diz que "em termos de história não mudou nada. Os mesmos problemas que aconteciam quando fizemos a peça são os mesmos que acontecem hoje. Então, essa peça é uma história para a vida toda, é uma realidade que acredito que vai ser sempre contínua."
Sangue novo no Mutumbela Gogo
Mas nem tudo nesta história é antigo, no Mutumbela Gogo há sangue novo. Depois de cerca de trinta anos de existência, que celebra este ano, o grupo abre as suas portas a jovens atores. Angelina Chavango faz de Rita, a menina albina da peça que é frequentemente rejeitada e alvo de troça dos outros meninos.Ela conta-nos o que significa trabalhar com o Mutumbela: "Nem sei expressar exatamente o que isso significa. Cresci a ver o Mutumbela e às vezes sonhava com as peças que passavam na publidade. E [hoje] estar a contracenar com ele é como se estivesse a realizar um sonho que não sabia que tinha. Cada dia e cada trabalho tem sido uma surpresa e tem sido estranho também pensar nessa surpresa. Um pensamento um bocadinho complicado".
E os sonhos que norteam a vida dos atores e dos personagens vão continuar a percorrer o mundo. O próximo destino dos "Meninos de ninguém" é Milão, na Itália, e por fim Lisboa, Tondela e Coimbra, em Portugal. Uma tournê que deve durar cerca de um mês.