Mutilação genital e casamento infantil duplicaram em África
1 de julho de 2022A região atravessa a pior seca dos últimos 40 anos, 3,3 milhões de alunos abandonaram a escola e 1,8 milhões de menores precisam de ajuda imediata para sobreviver, acrescenta um comunicado da Unicef divulgado esta sexta-feira (01.07).
"A média de casos de casamento de meninas mais que duplicou no espaço de um ano e a quantidade de crianças sob risco de êxodo escolar na Etiópia, Quénia e Somália triplicou nos últimos 90 dias por causa da crise" climática, escreve a organização.
As famílias em toda a região do Corno de África estão a tomar decisões em situação de desespero para sobreviver à seca, agravada pela mudança climática, que mata o gado e impede as culturas, o que está a provocar um "efeito dominó", alerta a UNICEF.
A guerra na Ucrânia, que fez subir ainda mais os preços dos combustíveis e dos alimentos, diretamente e indiretamente, veio tornar a situação insustentável.
"Mais de 1,8 milhão de crianças estão a precisar de cuidados para sobreviver por causa da subnutrição aguda. Só na Somália, pelo menos 213 mil pessoas enfrentam o risco de morte. Com o desespero, muitos pais e tutores estão a entregar as meninas em casamentos, assegurando dotes com que sustentam o resto da família", sublinhou a organização.
De acordo com o conselheiro para a Proteção Infantil da Unicef para o leste e sul de África, Andy Brooks, citado no comunicado, os níveis de casamento infantil e mutilação genital atingem meninas de até 12 anos com homens cinco vezes mais velhos.
O casamento infantil e a mutilação genital colocam um ponto final à infância e expõem as meninas à violência doméstica e ao abandono escolar, criando o risco de condenação a uma vida inteira de pobreza, sublinha o fundo da ONU para a infância, para quem "esta é uma crise das crianças, que precisa de financiamento imediato para uma resposta eficiente".