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Mutilação genital aumenta no Egipto

Bertolaso-Krippahl, Cristina23 de novembro de 2012

Políticos islamistas querem legalizar a prática. Apesar de ainda ser proibida, o número de ablações já começou a aumentar.

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Uma revolução não significa automaticamente mais liberdade e o progresso. As mulheres no Egipto que o digam. Pois, sob novo Governo islâmico no Cairo, a igualdade de direitos que tanto custou a conquistar, começa a ser atacada. Um exemplo é a lei que proibe a ablação genital feminina, mais correctamente designada por mutilação.

Políticos islamistas exigem agora a legalização desta prática. E, apesar de vigorar ainda a proibição, o número de ablações já começou a aumentar. Umm Mohammed é uma das vítimas desta prática nefasta e recorda-se bem do martírio pelo qual a fizeram passar, há 35 anos.

Mutiladas e traumatizadas para a vida

"Foi num barbeiro", conta. "Um dia, os pais do bairro reuniram todas as meninas da minha idade. Nós não sabíamos porquê", recorda Umm Mohammed, que, tal como as outras meninas, estava contente, porque receberam "de presente um vestido branco, novo e uma galinha para a canja". "Estávamos muito orgulhosas", conclui.

Mas, a seguir, veio o choque. Um homem estranho começou a despir as meninas uma após a outra, relata. "Chorei. Tinham-me ensinado que ninguém podia mexer na minha roupa. Ninguém nos podia ver nuas. Mas aí chegou o barbeiro com a lâmina", diz Umm Mohammed.

O resultado desta ablação para a egípcia não foi apenas a mutilação para toda a vida, mas também um enorme trauma: "Sangrei durante três dias. E perguntava-me que crime horrível tinha eu cometido para merecer isto da minha família. Uma das meninas morreu", afirma.

Casos aumentam apesar da proibição

O aumento das mortes levou o anterior Governo, há quatro anos, a probir a ablação genital feminina. Mas, desde a revolução, o número de ablações voltou a crescer. Umm Mohammed diz que antes as pessoas tinham medo de ser punidas, mas agora os médicos já nem escondem o que estão a fazer. Foi à polícia para apresentar queixa mas disseram-lhe: "Temos mais que fazer". Por isso, Umm Mohamed procura agora falar com as vizinhas, para lhes explicar as graves consequências da ablação genital feminina.

Trata-se de um tema tabu na sociedade, mas esta mulher de 47 anos diz abertamente que as vítimas sofrem de dores crónicas, problemas sexuais e dificuldades na gravidez e no parto.   

"Não sei porque é que odeiam tanto as mulheres"

Não obstante, representantes da Irmandade Muçulmana do Presidente Mohamed Mursi, reivindicam a relegalização da prática. E os islamistas não se limitam a falar, de acordo com Mervat Tallawy, a presidente do Conselho Nacional das Mulheres Egípcias. "Sei que andam carrinhas por todo o país que são clínicas móveis que se oferecem para fazer a ablação genital como serviço de saúde", afirma, explicando que "as carrinhas ostentam o símbolo da Irmandade Muçulmana". Segundo Tallawy, "esta nega e não tem vergonha em afirmar que se trata de uma falsificação".

Neste momento decorrem vários processos judiciais. Mas Mervat Tallawy diz que urge um sinal político inequívoco para travar este desenvolvimento assustador.

"Trata-se de abuso de crianças e de um acto bárbaro. Mas enquanto o Presidente Mursi não condenar a prática, os fundamentalistas vão continuar a empurrar-nos para a Idade Média. Não sei porque é que odeiam tanto as mulheres", questiona.

Autor: Cornelia Wegerhoff/Cristina Krippahl
Edição: Maria João Pinto/António Rocha