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Mulheres na Guiné-Bissau sofrem mais na pandemia

António Cascais
12 de junho de 2020

Quando mais desprotegidas numa sociedade, mais as mulheres sofrem em situações de crise como é a atual pandemia. Em entrevista à DW África, a ativista Antónia Adamá Djaló fala da situação das mulheres na Guiné-Bissau.

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Guinea-Bissau Transport Frauen
Foto: DW/B. Darame

A pandemia provocada pelo novo coronavírus está a exacerbar a desigualdade de género na Guiné-Bissau. Aqui, como em muitos outros países do mundo, as mulheres sofrem mais insegurança e discriminação no mundo do trabalho. Em casa, são elas que geralmente assumem a responsabilidade pelos cuidados com os filhos, e outros familiares idosos ou doentes.

A pandemia trouxe sobrecargas no que já era uma situação de desigualdade em casa. Outro problema que agravou com o confinamento resultante da pandemia é a violência doméstica. Antónia Adamá Djaló, presidente da Associação Guineense das Mulheres em Atividades Económicas (AMAE), chama a atenção para as dificuldades que atravessam as mulheres no seu país.

Guinea-Bissau | Antónia Adama Djaló | AMAE
Antónia Adama DjalóFoto: privat

DW África: Como é que a pandemia afetou a vida das mulheres na Guiné-Bissau?

Antónia Adama Djaló (AAD): Essa pandemia afeta muito a mulher guineense e a mulher africana de um modo geral. Sabemos que a mulher africana tem a responsabilidade da casa. Sabemos que as mulheres educam as crianças em casa. Então a pandemia é muito difícil para as mulheres. Há quase três meses que as pessoas estão em casa.

DW África: As creches e as escolas estão fechadas. Tomar conta dos filhos é mais uma sobrecarga para as mulheres?

AAD: Além dos filhos, elas vão ao mercado, buscar alimento para os filhos. Têm duplo trabalho. Além da sobrecarga das crianças, têm que providenciar a alimentação das crianças.

DW África: E muitas vezes também são as mulheres que tratam de familiares idosos ou doentes.

AAD: Em África não abandonamos os idosos. As pessoas cuidam dos idosos. Mesmo os familiares do marido são tarefa das mulheres.

DW África: Qual foi o impacto desta pandemia no trabalho das mulheres?

AAD: A primeira coisa é a dificuldade da venda. As mulheres levantam-se às seis horas da manhã para ir ao mercado e depois têm que lá ficar até às duas horas da tarde. Isso abalou muito as mulheres.  

DW África: Um pouco por todo o mundo constata-se um aumento da violência doméstica, sobretudo contra mulheres, por causa do confinamento. Isso também acontece na Guiné-Bissau?

AAD: Neste momento aumenta muito a violência contra as mulheres. Começam logo por ser vítimas de assaltos e violações quando saem muito cedo de casa para ir para o mercado. Isso também faz parte.

DW África: E há casos de violência no seio da própria família?

AAD: Quando nem o marido nem a mulher têm o que comer, surgem bastantes problemas dentro de casa.

DW África: Já há muitos anos que as mulheres em África, em geral, e também na Guiné-Bissau, lutam por mais igualdade. A pandemia está a dificultar essa luta?

AAD: A pandemia vai dificultar. Antes da pandemia, as mulheres estavam a lutar. Há uma organização, de nome PPM [Plataforma Política das Mulheres], que estava a lutar por dar às mulheres maior poder de decisão. Tudo isso está paralisado. Quando se envereda por um caminho, e de repente não há como continuar, isso complica tudo.