Mulheres lutam para serem cientistas nos PALOP
8 de março de 2023Denise Camacho, 31 anos, diz que começou a gostar de Ciência porque gosta de observar o mundo e fazia muitas perguntas. "E a ciência é isso: observação, perguntas, criar hipóteses e ir à procura do conhecimento", diz.
Há cinco anos em Portugal, a jovem cabo-verdiana é doutoranda na Fundação Champalimaud na área de Oncologia. Faz parte de um grupo que estuda em laboratório a competição celular.
"Estudamos como é que as células cancerígenas conseguem eliminar as células normais que estão à volta do tumor e como é que é feita essa comunicação entre a célula tumoral e a célula do estroma para poder eliminar e ganhar espaço e nutriente para crescer. No fundo, é estudar o mecanismo que o cancro utiliza para destruir, ganhar espaço e aumentar de tamanho", explica a jovem cientista.
O objetivo do projeto é descobrir uma forma segura de travar a progressão do cancro. Denise diz que o trabalho já está na fase de conclusão, e com sucesso. "Já descobri uma proteína que está envolvida nessa competição e, quando eu silenciei a expressão desta proteína, o cancro ou as células cancerígenas não avançaram, não destruíram as células normais", avança.
A fase seguinte implica experiências com animais de laboratório para se chegar a uma conclusão visando descobrir uma terapia para o cancro.
Uma minoria na ciência
Denise Camacho faz parte de uma minoria de mulheres cientistas, em todo o mundo. Segundo dados da UNESCO, menos de 30% dos investigadores científicos são mulheres. Em África, estima-se que a percentagem seja ainda inferior. A jovem diz que faltam bolsas de estudo e prémios para incentivar as mulheres.
Maria do Rosário Bragança, ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação de Angola, reconhece o desafio, dizendo que "ainda há um grande desequilíbrio, muito grande mesmo".
"Portanto, o caminho é para se fazer, mas temos que começar mesmo também na educação das meninas, porque se tivermos meninas excluídas no sistema de ensino isso vai se repercutir em menos mulheres na Ciência", afirma.
O papel das mulheres cientistas
Em África, ainda há muito por fazer no campo da saúde. Há sérios desafios para o combate ao fardo de doenças infeciosas como a malária, que ceifam muitas vidas. Neste quadro, as mulheres cientistas da comunidade dos países lusófonos podem ter um importante papel a desempenhar, diz a ministra Maria do Rosário Bragança.
Para isso, os países da CPLP devem trocar experiências, seguindo as melhores práticas neste domínio e aumentando a visibilidade das mulheres cientistas.
"Esta é uma comunidade e, como tal, é obrigatório partilhar e conhecer as experiências, porque neste mundo ninguém está isolado. Esperamos que a CPLP, nos anos vindouros, consiga fortalecer este tipo de experiências", afirma.
A DW falou com estas duas cientistas à margem de uma conferência recente, em Lisboa, sobre "Mulheres e Meninas na Ciência".