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Mulheres egípcias na luta contra agressão sexual

7 de agosto de 2012

Com o fim da circulação das forças de segurança pelas ruas do Egíto, o número de abusos sexuais aumentou. Os alvos são sobretudo manifestantes. Mulheres acreditam que as agressões têm motivação política.

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Foto: Mohammed Al Bedawi

Os protestos no Egito que levaram à queda de Hosni Mubarak em 2011 também têm seu lado sombrio no que afeta às mulheres. Mulheres que participaram das manifestações foram vítimas de abuso sexual. Foi o caso de Asmaa Mahfouz, a primeira a exortar protestos em massa contra o presidente Hosni Mubarak, numa mensagem de vídeo há um ano e meio.

Numa altura em que homens e mulheres protestaram de mãos dadas contra o regime, a Praça Tahrir esteve livre do assédio sexual. E a área repleta de militares. Mas hoje, se uma mulher quiser integrar uma manifestação no centro do Cairo, tem sobre si a ameaça da agressão sexual. Porque os protestos no Egito continuam, mas agora por direitos cívicos.

Atacada por mais de 15 homens

Às vezes, enquanto dorme, Nihal Saad Zaghloul volta a vê-los. Os homens que abusaram sexualmente dela na Praça Tahrir. Ela conta que foi separada dos amigos com os quais estava na praça hoje símbolo da revolução. "Puxaram o meu hijab e agarraram-me por trás. Eram mais de 15 homens. Eu fiquei mesmo assustada, como nunca me tinha acontecido antes.”

Era uma sexta-feira, final de junho, e como tantas vezes, Nihal Saad Zaghloul foi com os amigos para a Praça Tahrir para uma manifestação. Mas é um dia que a jovem egípcia numa mais irá esquecer. Apesar de tudo, ainda teve sorte porque recebeu ajuda de um grupo de homens. E o estupro em si conseguiu ser evitado.

Sexuelle Belästigung in Ägypten
Sally Zohney luta pelos direitos das mulheresFoto: privat

Abusos por encomenda

Quando o centro da cidade do Cairo se transforma em uma área de protesto, reúnem-se por lá alguns homens que ninguém exatamente sabe quem são. Eles aparecem geralmente sempre no mesmo canto da praça e juntos são um grupo organizado de até 30 pessoas.

Sally Zohney, da UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), tem a certeza de que uma parte dos ataques às mulheres são encomendados: "É uma mensagem política. O tipo de abusos contra manifestantes femininas é diferente dos abusos praticados nas ruas. A forma de agarrar, as violações com os dedos, tudo isso é comum e está sempre relacionado com a honra e o orgulho. É feito para destruir a vontade das mulheres que vão para as ruas protestar.”

Falta de punição

Mas nem todos os agressores estão politicamente motivados. Muitos homens tiram vantagem do aglomerado de pessoas para, no anonimato, praticarem crimes sexuais.

O abuso sexual está aumentando não só em manifestações, mas também em situações quotidianas. Situações que estão a tornar-se extremas.

Atualmente, dificilmente uma mulher entra na cidade do Cairo sem ser assediada. De acordo com um estudo do Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres, só em 2006, mais de 80% das mulheres egípcias foram diariamente assediadas sexualmente. Cerca de metade dos homens, naquela época, admitiu assediar mulheres.

Sally Zohney acredita que agora o número de mulheres molestadas sexualmente é muito maior porque as forças de segurança nas ruas do Egito desapareceram desde a revolução.

“Os abusos aumentam porque os agressores sabem que não serão punidos. Eles podem molestar uma mulher, podem bater-lhe, podem violá-la, e não serão punidos.”

Übersicht Tahrir Platz Kairo Mursi Amtseid
Praça Tahrir em dia de manifestação: cenário propício para assédios sexuaisFoto: Reuters

O preço que se paga

São principalmente as jovens egípcias que lutam por mais consciência pública e por transformação da sociedade. Com campanhas e manifestações, encorajam outras mulheres a defender-se. Todas as semanas, elas vão para as ruas. Sally Zohney comenta estar contente com o resultado das campanhas, mas lembra que as conquistas são obtidas a um preço muito alto.

Mas não é só o problema do assédio sexual que leva as jovens a protestar. As mulheres no Egito têm outros direitos ameaçados. Direitos pelos quais lutaram duramente, como a idade mínima para casar. O extinto parlamento islamista discutiu, por exemplo, proibir o direito ao divórcio, bem como reduzir a idade mínima para se casar, de 18 para os 12 anos.

Mas ainda assim, apesar do trauma, Nihal Saad Zaghloul quer continuar a lutar: "Eu só gostaria que fôssemos tratadas de igual para igual, como seres humanos."

Autora: Victoria Kleber / Carla Fernandes
Edição: Bettina Riffel / António Rocha

08.08. Sexuelle Belästigung Ägypten - MP3-Mono