Mudanças climáticas colocam em risco zonas de Moçambique
7 de junho de 2023Moçambique é um dos países africanos mais vulneráveis às alterações climáticas e nos últimos anos tem sido fustigado por ciclones, tempestades tropicais e cheias, prevendo-se que esses fenómenos venham ainda a aumentar em número e em intensidade. Por isso, o Governo deveria adotar medidas mais consistentes.
É o que defende o professor catedrático da Universidade Pedagógica de Maputo, Severino Ngoenha, que esteve recentemente na província do Niassa, onde participou no lançamento de um programa ambiental.
Ngoenha refere-se concretamente às populações de cidades como a Beira, Xai-Xai e Quelimane, que devido a vários fatores, sobretudo geográficos, estão mais expostas a cheias e a outros fenómenos climáticos extremos.
"O Governo deveria aconselhar as populações dessas cidades no sentido de procurarem zonas mais seguras", salientou o professor em entrevista à DW África na província do Niassa, e explicou a ideia: "Estas cidades situam-se abaixo do nível do mar e, por isso, são ainda mais vulneráveis aos fenómenos climáticos".
Perigo latente para pessoas e infraestruturas
As referidas zonas deverão ser dadas como perdidas? Foi o quis saber a DW África.
Severino Ngoenha reagiu, desenhando um quadro muito pessimista da situação: "O segundo Idai que vai chegar vai partir a cidade da Beira, a cidade de Quelimane não vai sobreviver. Nós se tivéssemos dinheiro tínhamos que empurrar as populações das zonas costeiras para as zonas altas para salvar o que é salvável nos próximos anos e contra grandes catástrofes que se anunciam contra nós".
Ngoenha falava durante o lançamento do seu livro "O Retorno do Bom Selvagem" e do programa ambiental "Conserva BioNiassa", a ser implementado pelo Centro de Pesquisa e Promoção Social (CPS) na cidade de Lichinga.
Tempestade Freddy afetou, e muito, o Niassa
No início do ano, a província do Niassa foi uma das zonas atingidas pelas cheias provocadas pela tempestade Freddy. Estradas e outras infraestruturas foram destruídas.
O professor deixou um apelo: "A primeira biodiversidade que deveríamos proteger são os nossos filhos, os nossos irmãos. Os primeiros a precisarem de proteção somo nós. Precisamos de escolas, hospitais e empresas. Aqui no Niassa não há absolutamente nada".
Ngoenha aproveitou a sua ida a Lichinga para trocar ideias com os representantes de instâncias locais, como o Centro de Pesquisa e Promoção Social, cujo objetivo é melhorar a vida das comunidades no Niassa, tornando-as mais sustentáveis.
O coordenador do projeto, Joaquim Maloa, disse à DW África que a sua organização vai focar no reforço da educação ambiental: "Estamos a construir um futuro partilhado para a restauração dos ecossistemas da nossa província, estamos convictos de que estamos no caminho certo, rumo à consolidação do desenvolvimento sustentável, a nossa expetativa é que assumamos que a conservação é o pilar do desenvolvimento sustentável".
Queimadas descontroladas e caça furtiva
No Niassa, a caça furtiva e as queimadas descontroladas continuam a ser os principais fatores que concorrem para a degradação do ambiente e que influenciam para os desastres naturais, de acordo com o representante do conselho executivo provincial, Joaquim Chiro.
"A nossa Província é rica em diversidade biológica, possuindo uma diversidade de espécies de fauna e flora que nos são especificas", afirmou Chiro, salientando os muitos "desafios e dilemas que temos de ultrapassar".
Objetivo principal do projeto "Conserva BioNiassa" é elevar a consciência da população quanto à necessidade da preservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais, sobretudo nos distritos de Lago, Sanga, Majune, Mavago, Marrupa, Maua, Mecula, Metarica e Nipepe.