Cabo Delgado: MDM diz que falta estratégia ao Governo
20 de novembro de 2020Sande Carmona, porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), considera que não há uma estratégia política nem militar em Moçambique para lidar com os ataques terroristas no norte do país.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
Em entrevista à DW África, Sande Carmona diz que o Governo falhou ao não ter optado pelo diálogo com os cabecilhas dos ataques logo no início do conflito.
DW África: Como é que o MDM avalia a atuação do Governo moçambicano em relação ao conflito em Cabo Delgado?
Sande Carmona (SC): Lamentamos a falta de inteligência por parte do Governo para pôr fim a esta situação que já tirou a vida de centenas de moçambicanos e [provocou] milhares de refugiados.
DW África: O que quer dizer com falta de inteligência?
SC: Quando um povo elege um Governo, está a eleger soluções. Não está a eleger indivíduos para se sentarem na cadeira e começarem a lamentar, como faz o povo. Isso chama-se falta de inteligência, porque se o Governo tivesse inteligência já tinha acabado com a guerra em Cabo Delgado.
DW África: O que poderia ser feito para acabar com a guerra?
SC: Há vários caminhos. Logo quando a guerra teve início, solicitámos ao Governo para que encontrasse os cabecilhas destes movimentos para lhes perguntar o que queriam e para tornar público as suas necessidades. Isso não aconteceu. As armas nunca trouxeram paz em nenhuma parte do mundo. Há vários outros mecanismos que podem levar a nação a ter paz.
DW África: Quais seriam os caminhos possíveis para controlar a situação de Cabo Delgado?
SC: Se querem enveredar pela via da guerra, para eliminar os terroristas, deveriam utilizar a melhor estratégia militar possível, para que os terroristas que estão a invadir o país tenham de recuar ou tenham de ser exterminados. Mas a falta de estratégia militar deve estar a facilitar as manobras dos inimigos.
DW África: O Governo moçambicano tem feito vários pedidos internacionais de ajuda para Cabo Delgado. Como é que o MDM olha para estes pedidos?
SC: Ninguém pode sobreviver só de pedidos. Tem de ter a sua base, a sua estratégia e capacidade. Os outros deveriam servir para complementar. Se esperamos que os outros [países] venham fazer tudo o que deveríamos nós fazer, tenho a lamentar que não há boas recordações em torno disso. Se não, os outros também começarão a delapidar o pouco que ainda resta em Moçambique em nome da guerra e do apoio a Cabo Delgado.
DW África: O MDM acredita que a primeira opção tem de ser a capacidade interna?
SC: Sem dúvida. As nossas Forças de Defesa e Segurança têm de estar capacitadas e munidas de instrumentos capazes de repelir qualquer um que queira invadir o nosso país. Nenhum Governo do mundo toleraria que o seu próprio povo morresse quando há várias outras correntes que poderiam ser reunidas para discutir uma estratégia militar, política e social para pôr fim à guerra.
DW África: Enquanto MDM, que assessoria é que o partido poderia dar ao Governo para lidar melhor com este assunto?
SC: Se quiser o nosso apoio e assessoria, o Governo terá de pedir ao MDM e ao seu líder [Daviz Simango] para encontrar soluções para repelir os terroristas em Cabo Delgado. Se há egoísmo por parte do Governo, que pensam que são eles que mandam, o resultado é o que está a acontecer, quer na região centro, quer no norte do país.
DW África: Nunca chegou nenhum pedido do Governo ao MDM por causa da situação de Cabo Delgado?
SC: Que eu saiba, nunca chegou.