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Moçambique: Risco de retrocesso nas negociações de paz?

26 de junho de 2018

Pacote de desmilitarização dos homens da RENAMO pode colocar negociações de paz em risco. Analistas e jornalistas não acreditam em grandes avanços nos próximos meses.

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Ossufo Momade mantém-se na Gorongosa para pressionar as autoridades a tomarem uma posição, diz analistaFoto: Getty Images/A. Barbier

Depois do partido FRELIMO boicotar a sessão extraordinária na Assembleia da República, na semana passada, o deputado e delegado provincial da RENAMO em Inhambane, Carlos Maela, convocou a imprensa para informar o que considera uma interferência política por parte da FRELIMO, ao querer colocar em risco o processo de negociações entre as duas formações políticas.

Maela considera uma chantagem a exigência de desarmamento dos homens da RENAMO antes da aprovação do pacote legislativo sobre as autárquicas, porque não faz sentido este tipo de requerimento, sabendo que já foram realizados escrutínios com homens da RENAMO armados.

"Achamos que é uma chantagem mas não sabemos se eles querem que a RENAMO esteja desarmada até ao processo eleitoral, porque sabemos que este processo está a ser tratado ao mais alto nível”, diz.

Moçambique: Risco de retrocesso nas negociações de paz?

O delegado provincial pede ainda que se recue na decisão.

"Apelamos à FRELIMO que recue no seu posicionamento, porque já se realizaram quatro eleições municipais com a existência da ala militar da RENAMO e ninguém reclamou. O que vai ser a seguir cabe à direção máxima orientar as províncias”, acrescentou Carlos Maela.

Reintegração de guerrilheiros tarda

Para o analista e delegado provincial da Associação dos Deficientes de Moçambique (ADEMIMO), Manuel Bulafo, no seio das duas formações políticas existem pressões e é por isso que o líder da RENAMO ainda continua a viver na serra da Gorongosa. O analista acredita que é uma forma de exigir, por parte do Governo, uma decisão sobre a reintegração social dos guerrilheiros, visto que em 1992 este assunto não ficou totalmente solucionado.

Mosambik Renamo Rebellen in den Bergen von Gorongosa
Foto de arquivo: Deputado da RENAMO quer integração de guerrilheiros da RENAMO nas forças armadas e de segurança de MoçambiqueFoto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

Segundo Manuel Bulafo, o chefe de Estado é quem deve resolver o problema. Posteriormente, a solução deve ser acatada pelo Parlamento, sem qualquer tipo de interferências no processo.

"O facto (de Ossufo Momade estar na Gorongosa) é para pressionar as autoridades a tomarem uma posição. Não é ele que diz que a RENAMO está a sentir-se mal por ver o processo de desmobilização a decorrer numa fase muito lenta. Os guerrilheiros, devem gozar uma vida plena fora do mato, e se o chefe de Estado anunciou isto, é porque tem toda capacidade para decidir ".

Andaqui Albino, jornalista em Inhambane, disse à DW que o discurso do Presidente da República, proferido na última segunda-feira (25.05), sobre a desmilitarização da RENAMO pode não vir a acontecer até outubro próximo. Albino espera, contudo, que haja um entendimento, o mais rápido possível, para que seja evitada retoma de hostilidades armadas.

"Trata-se de um processo que faz parte do pacote de descentralização e a questão da situação política tem que encontrar um entendimento, por parte tanto da RENAMO como da própria FRELIMO, para não haver hostilidades militares, porque o povo
moçambicano quer a paz”, disse o jornalista.

Acordo de Paz de 1992 ainda por cumprir

Mosambik - Stellvertreter RENAMO - José Manteiga
José Manteiga, deputado da RENAMOFoto: DW/L. Da Conceição

José Manteiga, Deputado da RENAMO na Assembleia da República e membro da Comissão Política disse à DW que, antes de morrer o Afonso Dhlakama, tudo já estava garantido para o enquadramento dos homens armados da sua formação política nos vários ramos das Forças Armadas e de Segurança de Moçambique, com base no acordo geral de paz assinado em Roma, em 1992, mas depois houve um retrocesso.

Agora, espera que o Presidente Filipe Nyusi avance com este processo, algo que já devia ter acontecido.
"Esses homens já deviam ser sido enquadrados. Aliás, o Presidente da República já devia ter dado passos mais concretos de modo concluir este processo sobre as questões militares”, afirmou José Manteiga.

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