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EducaçãoMoçambique

Moçambique: Que soluções para os desafios no ensino?

Ernesto Saúl (Maputo)
1 de junho de 2022

Sociedade civil espera que os erros nos manuais escolares sirvam de alerta. "Há uma necessidade de revisão profunda dos livros que estão aprovados", diz o Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade.

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Foto: DW/M. Mueia

Enquanto o Governo moçambicano espera os resultados da comissão de inquérito criada para investigar os erros no livro de Ciência Sociais do sexto ano - nos próximos 15 dias - académicos e sociedade civil preparam um relatório sobre a situação da educação no país, um documento a ser apresentado na cimeira das Nações Unidas, em setembro deste ano.

Infraestruturas precárias, inconsistências no currículo e insuficiência de professores qualificados são parte dos vários problemas que afetam a qualidade do ensino em Moçambique, afirmam.

Sarmento Preço, presidente do Movimento Educação para Todos
Sarmento Preço: "O rácio professor-aluno é muito elevado"Foto: Ernesto Saúl/DW

O presidente do Movimento Educação para Todos (MEPT), Sarmento Preço, diz haver, no país, um crescente número de crianças com acesso ao ensino. No entanto, estudam em condições precárias. Por isso, afirma, apenas quatro em cada 100 crianças que concluem a terceira classe sabem ler e escrever.

"O rácio professor-aluno é muito elevado. Não é fácil dar aulas à volta de sessenta ou setenta crianças. É um número muito elevado para um único professor. Essas condições todas concorrem para que o professor não tenha um espaço suficiente para dar atenção a cada criança."

Erros servem de alerta

Os problemas estão também nos manuais. No fim de semana, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano teve de pedir desculpas por erros no livro de Ciências Sociais, que, por exemplo, colocava Moçambique fora da região da África Austral.

Para Tassiana Tomé, do Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), os erros servem de alerta.

"Estes erros, em particular do livro da 6ª classe, indicam que há uma necessidade de revisão profunda dos livros que estão aprovados. Porque isto vai além de uma simples correção de grafia, de uma simples errata. Estamos a falar de conteúdos de ensino que estão deturpados, e isso é grave."

O professor universitário Francelino Wilson acrescenta, no entanto, que a questão da grafia também é importante. O português usado nos livros difere do português usado em Moçambique.

"Há um debate que não é levantado, que tem que ver com que norma este livro, que circula nas nossas escolas, foi escrito", refere Wilson. "É um livro que foi escrito com a norma portuguesa, uma norma que fingimos estar a ensinar num país que tem variações e que as pessoas convivem com estas variações do português, e sobre isso ninguém fala. A gente faz passar o livro numa norma, e não é essa norma que é ensinada."

Renato Paulo, da Associação dos Deficientes de Moçambique
Renato Paulo: "Agora fala-se de inclusão, mas essa inclusão não se vê"Foto: Ernesto Saúl/DW

Outros desafios no ensino

Para Renato Paulo, da Associação dos Deficientes de Moçambique (ADEMO), a inclusão da pessoa com necessidades especiais no ensino é outra questão que se deve ter em conta.

"É um processo contínuo que deve melhorar. Porque agora fala-se de inclusão, mas essa inclusão não se vê. A pessoa pode estar integrada numa turma, mas não se sentir incluída, porque não participa."

Entre os desafios que interferem na qualidade do ensino em Moçambique estão ainda as intempéries atmosféricas, sobretudo no centro e norte do país, que destroem escolas e obrigam ciclicamente a novos investimentos no setor. 

Moçambique conta com um total de 13.337 escolas primárias e 677 escolas secundárias públicas, segundo os últimos dados do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.

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