Moçambique: Populares relatam tiroteios em Mucojo
20 de maio de 2024A troca de tiros constantes prossegue desde a incursão e ataques de grupos insurgentes em 10 de maio, na vila de Macomia, que abandonaram no dia seguinte, descendo para Mucojo, segundo os relatos de habitantes.
"Não está sendo fácil desde que os terroristas invadiram a vila de Macomia. Os tiroteios intensificaram-se na zona de Mucojo", disse à Lusa uma fonte a partir da sede distrital.
Não há conhecimento de mortos nestes combates, nem relatos de fuga das populações, mas a intensidade dos tiroteios deixa preocupados os agricultores de Nambine, a menos de 10 quilómetros de Mucojo, que temem novos ataques.
"Não sabemos se alguém morreu entre as partes. Isto atormenta-nos e não sei se alguns não vão abandonar as suas machambas (campos de produção) para Macomia", disse à lusa uma fonte a partir de Nambine.
Algumas lojas, saqueadas pelos terroristas aquando da invasão a vila de Macomia, em 10 de maio, continuam encerradas.
"Não temos lojas a funcionar, os proprietários abandonaram a vila de Macomia por medo, só temos barracas a funcionar ainda em ritmo lento", disse uma fonte a partir da sede distrital de Macomia.
O ataque de grupos insurgentes à vila de Macomia, um dos maiores dos últimos meses, provocou de 10 a 14 de maio quase 1.500 deslocados, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com o mais recente relatório daquela agência do sistema das Nações Unidas, que a Lusa noticiou, os "ataques e receios de ataques" por parte destes grupos armados levaram à fuga de mais de 530 famílias de Macomia, totalizando 1.461 pessoas registadas pela OIM nos locais de destino, sendo mais de metade (57%) crianças.
O Ministério da Defesa Nacional confirmou em 10 de maio este "ataque terrorista", garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outro morto.
Posteriormente, fontes locais consultadas pela Lusa confirmaram que pelo menos cinco corpos foram encontrados no regresso da população à vila de Macomia, após a saída dos grupos insurgentes da localidade -- segundo alguns relatos com cerca de 100 homens -, mais de 24 horas depois.
Os ataques levaram ainda à pilhagem das lojas da vila, tendo os insurgentes levado igualmente viaturas e motorizadas.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã do mesmo dia, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até julho.
"É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (...). Como estão de saída, espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso", reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.
Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.