Moçambique: Polícias detidos por morte de cidadão na Beira
27 de abril de 2020O cidadão Abdul R. terá sido morto ao intervir num confronto entre agentes da polícia e um grupo de adolescentes que jogavam futebol num campo situado na zona suburbana da Munhava, na cidade da Beira.
Segundo a família, o homem de 44 anos era familiar de alguns dos adolescentes, e terá intervido depois dos agentes da polícia terem agredido os jovens supostamente por não estarem a respeitar as regras de distanciamento social no âmbito do estado de emergência decretado por causa da pandemia da Covid-19.
Uma testemunha conta em anonimato que várias senhoras começaram a gritar para largarem o homem que"não estava a reagir, não tinha força para reagir porque eles só estavam a bater, a 'coronhar' com aquela arma na cabeça."
Outro cidadão, que pediu igualmente o anonimato, diz que se trata de um caso grave de abuso de poder: "O que eles deviam fazer era prender e levar para a esquadra e não dar pancadas até à morte. Agora perdemos uma pessoa, o que nós queremos é só justiça".
Agentes podem ser expulsos
Dois agentes foram detidos no fim-de-semana depois de as autoridades abrirem um inquérito. A Polícia da República de Moçambique, através do seu porta-voz Orlando Mudumane, condena as atitudes dos colegas, e avança que eles respondem a processos disciplinares e criminais, e poderão ser expulsos da corporação.
"O comando-geral da PRM repudia e condena veementemente as atitudes criminosas de alguns agentes de flagrante desrespeito à lei e à deontologia profissional da corporação. Lamenta profundamente a morte daquele cidadão e endereça as mais sentidas condolências à família enlutada", afirmou Mudumane.
MDM pede justiça
Até agora, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi o único partido a reagir ao sucedido. A terceira maior força política do país lamentou a ação dos agentes, que classificou como "crime de homicídio voluntário qualificado". Adelino Muchanga, delegado político provincial do MDM, exige justiça "perante esta situação de uma autêntica violação dos direitos humanos".
O MDM denuncia também outras atrocidades semelhantes noutros pontos da província de Sofala e dá o exemplo de Nhamatanda: "Quando forem 20 ou 21 horas, nenhum cidadão deve circular, [e] quando intercetados são severamente espancados ou 'chamboqueados', sem no mínimo perceberem o motivo da presença no local", diz Adelino Muchanga.