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Moçambique passa por crise de caça furtiva, afirma diretora da WWF

Estarque,Marina5 de agosto de 2013

Em reunião com o governo moçambicano, no final do mês passado, a diretora da WWF acredita ter notado um maior interesse sobre o assunto. No entanto, ainda não há um programa concreto de combate.

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A diretora nacional do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) Moçambique, Anabela Rodrigues, alerta que o país sofre uma crise, devido ao aumento do número de rinocerontes e elefantes abatidos pela caça furtiva.

De acordo com ela, a alta do preço do marfim e o incremento de atividades criminosas de grupos organizados são alguns dos fatores que contribuíram para a piora deste cenário.

"Os números de animais abatidos aumentaram substancialmente. Os primeiros sinais surgiram em 2008 e começaram a se agravar". Anabela Rodrigues diz que 2009 e 2010 foram anos "muito complicados" e que a situação vem se agravando até agora.

"As últimas contagens aéreas que foram feitas no norte de Moçambique davam pela primeira vez dados dramáticos. Mais de 3 mil elefantes foram abatidos em dois anos", conta.

A diretora afirma que os elefantes têm sido o principal alvo em Moçambique, já que o número de rinocerontes é muito reduzido no território nacional. O problema maior de caça desta espécie se concentra no sul do país, junto à fronteira com a África do Sul.


Anabela Rodrigues se reuniu, na semana passada, com representantes de vários ministérios. O encontro de capacitação, que durou três dias, foi organizado pelas ONGs TRAFFIC e WWF, em parceria com a Direcção Nacional de Terras e Florestas.

Ações concretas

Para a diretora, foi possível perceber um maior interesse dos oficiais pelo problema. No entanto, ressalta, o governo não se comprometeu com ações concretas.

"O governo não especificou exatamente o que se compromete a fazer. Nós temos conhecimento de que há uma comissão interministerial e de que estão a tentar desenhar uma estratégia. Mas a afirmação que foi feita foi muito geral".

Poder de decisão

Segundo a diretora, uma das dificuldades é a articulação entre as diferentes autoridades. Além disso, ela defende um maior envolvimento de políticos em altos cargos no governo.

"Não estão ainda a participar nesses encontros aqueles que tem maior poder de decisão. É sempre um nível de funcionários do Estado que têm um papel ativo, é importante atingi-los, mas não são eles necessariamente os motores das transformações".

Anabela Rodrigues argumenta que estes oficiais não possuem o poder de realizar uma campanha, capaz de solucionar esta crise. "É por isso que eu não seria tão peremptória em dizer que saímos da reunião com a convicção de que há uma tomada de posição mais ativa por parte do governo".

A diretora afirma que é preciso rever a atual legislação moçambicana, que não define o abate ilegal de elefantes como crime. Anabela Rodrigues defende também que há limitações orçamentais e institucionais que dificultam o combate da caça furtiva. "Há todo um conjunto de limitações, mas há também uma certa falta de vontade política para lidar com este assunto de uma forma mais séria".

Ela acredita que a tarefa não é simples: "Não é fácil, quando se tem um país onde ainda há tanta pobreza, ter essa firmeza. Mas ela é importante". Anabela Rodrigues acredita que a fauna ainda não é reconhecida como parte da riqueza nacional.

Moçambique e Vietnã foram criticados por desrespeitar as regras do comércio de chifres de rinocerontes na última reunião da CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres, que aconteceu em março em Bangkok.

A diretora da WWF afirma que Moçambique pode sofrer sanções por parte da CITES e ser proibido de exportar estes produtos. Segundo ela, isto teria um grave impacto na indústria da caça.

África do Sul

Até março de 2013, 188 rinocerontes foram abatidos na África do Sul. No início do ano, três moçambicanos, suspeitos de caça furtiva, foram mortos em tiroteios com guardas florestais no Parque Nacional Krüger, na África do Sul.