O sofrimento dos mais velhos em Inhambane
1 de outubro de 2021Em Inhambane há muitos casos de idosos assassinados a sangue frio pelos seus familiares. Alguns chegam a ser queimados vivos. Há vários de idosos maltratados pelos próprios filhos que culpam os pais por não terem sucesso ou oportunidades na vida.
Almone Fernando é um líder comunitário no distrito de Funhalouro. Ele conta que há um mês uma idosa foi assassinada pelo próprio neto na sua comunidade: "Matou a avó com quem vivia e queimou [o seu corpo]".
Sandra Malova está há cinco anos a residir num centro de apoio a idosos no distrito de Massinga. Malova contou à DW África que escapou por pouco da morte em Maputo, porque a sobrinha a culpou pela morte da mãe e queria vingar-se.
Superstições e maus tratos
"Zanguei-me e fui ao tribunal. Deram-me razão. Mas não quero viver com pessoa que me quer matar. Pedi para vir ficar aqui", explicou Malova à DW África.
Natural da Zambézia, o idoso Jeque Araújo hoje reside no distrito de Zavala, em Inhambane. Araújo diz que sua família não pode saber onde está. O idoso teve de fugir de sua casa onde era maltratado pelos familiares. "A minha família não sabe se eu estou vivo ou não. Estou aqui há muitos anos", diz.
"Amanhã todos seremos idosos”
Cenildo Raúl, responsável pelo Centro de Apoio à Velhice em Massinga, disse à DW África a maior parte dos idosos aqui acolhidos teve de sair de casa por servítima de superstições que estão na origem dos maus-tratos. Muitas vezes os idosos são acusados de feitiçaria. Acrescenta que só poucos familiares visitam mais velhos.
Isabela Matimbe, diretora distrital da Saúde, Mulher e Acção Social em Funhalouro, garante que o Governo está a fazer um trabalho de consciencialização junto a jovens adultos para que saibam valorizar as pessoas da terceira idade.
"O idoso sempre será nossa biblioteca humana e é uma dádiva. Devemos lembrar-nos que hoje somos jovens, mas amanhã seremos idosos", disse Matimbe.