Moçambique: Junta Militar fechada ao diálogo com a RENAMO
1 de setembro de 2020Através da Comissão de Defesa e Segurança, a Assembleia da República de Moçambique encorajou a liderança da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) a persistir nos contactos com a auto-proclamada Junta Militar, composta por antigos guerrilheiros dissidentes desse partido.
O objetivo é convencê-los a deporem as armas e fazerem parte do processo de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) em curso. Entretanto, a Junta Militar recusa-se a manter qualquer contacto com o maior partido da oposição, a RENAMO.
A comissão parlamentar de Defesa e Segurança, liderada pela deputada Diolinda Chochoma, constatou na última sexta-feira (28.08) que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) - no terreno para garantir a segurança das comunidades na província central de Sofala - continuam implacáveis contra os inimigos da paz.
Contudo reconhece ser difícil combater a auto-proclamada Junta Militar da RENAMO porque os seus membros estão inseridos nas comunidades.
Segurança
Segundo Diolinda Chochoma, "a segurança na província de Sofala está calma na medida em que há circulação de pessoas e bens". No entanto, ela reconhece que "existem realmente esses ataques da dita Junta Militar da RENAMO", embora "o trabalho esteja a andar, com as Forças de Defesa e Segurança a trabalhar".
"Como disse, estão com uma força e cientes de que o nosso povo não pode viver na insegurança", explica Chochoma.
A parlamentar considera que a única solução para pôr o fim à instabilidade nas províncias de Sofala e Manica é incluir os desertores da RENAMO no processo do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos antigos guerrilheiros do partido. Além disso, a seu ver, esta missão cabe apenas à liderança do maior partido da oposição moçambicana.
"Apelar à liderança da RENAMO para continuar com a sensibilização. Estão a sensibilizar mas [é preciso] continuarem com a sensibilização e mobilização para aqueles poucos, ou muitos, que ficaram com Nhongo. E que venham juntar-se àqueles que estão à espera do DDR, a acontecer, e que muitos estão a fluir", explicou.
Por sua vez, Ossufo Momade, presidente do maior partido da oposição, a RENAMO, já declarou em público que não há espaço para negociação com o grupo liderado por Mariano Nhongo e recomenda o regresso voluntário do antigo general e o grupo por si liderado.
"Recusa de qualquer aproximação"
Em entrevista à DW África Mariano Nhongo, líder da auto-proclamada Junta Militar da RENAMO, também recusa qualquer aproximação com Ossufo Momade. Nhongo acusa-o ainda de ser traidor e extende a acusação a André Majibiri, secretário-geral do partido.
"Não temos mais 'paciência em ir pedir paciência' [favor] aos traidores, porque ninguém da Junta Militar da RENAMO vai ter com o Majibiri. Alguma vez ele disparou [uma] arma?", questionou Nhongo, acrescentando: "Nós conhecemos a ele [Majibiri], recusamo-lo quando era jovem, em 1989".
"Ossufo saiu da FRELIMO, foi capturado. Os dois combinaram para destruir a RENAMO. Mas a RENAMO não é destruída. Não temos mais tempo para nos ajoelhar [diante do] camarada, em frente à FRELIMO [...] Ajoelhar, pedir favor para quê? Nós vamos bater a FRELIMO até levar todas armas", acrescentou o líder da Junta Militar.
Enquanto continuam as trocas de acusações entre entre o Governo da FRELIMO, a Junta Militar e a RENAMO, prosseguem os raptos, assassinatos e ataques armados nas províncias de Sofala e Manica.
No último domingo (30.8) foi registado um ataque armado contra um autocarro, que culminou no ferimento de dois passageiros. O incidente ocorreu na zona limítrofe entre Chibabava e Machanga, no sul da província de Sofala, antigo palco de confrontos militares entre os anos de 2013-2017.