Moçambique: Caso Max Love chega a julgamento
20 de outubro de 2021O jovem Jaime Paulo, tratado por Max Love, de 23 anos de idade, natural de Nampula, foi morto a tiro em 2013 por um agente de proteção de altas individualidades em Quelimane. Max Love participava numa marcha com cânticos e batuques, quando celebrava a vitória de Manuel de Araújo, na segunda vez que o político foi eleito presidente da autarquia.
O julgamento esta quarta-feira (20.10) decorreu à revelia do acusado, Manuel João, de 52 anos, que não compareceu ao tribunal.
"O Ministério Público acusa Manuel João, que cometeu com a sua conduta um crime de homicídio qualificado, previsto e punido pelo artigo 351 número 6 do Código Penal em vigor. A moldura penal abstrata aplicável é de 20 a 24 anos de prisão maior", disse Domingos Julai, procurador do Ministério Público.
Crime violento
De acordo com o Ministério Publico, Max Love, "encontrou a morte vítima de baleamento".
"A morte foi violenta", referiu a acusação. "Pela localização da lesão, tipo e agente causador da lesão, houve intenção de matar. O exame balístico concluiu tratar-se de ferimentos produzidos por um projétil de arma de fogo, tipo pistola de 9 mm de calibre, efetuado a curta distância. Quando o incidente aconteceu, parte da caravana do partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM) já tinha passado", indicou.
A mãe de Max love, Fátima Vasco Abílio, viajou de Nampula para Quelimane para assistir ao julgamento e admitiu à DW África que não tem lágrimas suficientes para chorar a morte do filho.
"Não sei o que posso fazer, era o filho que confiava na vida, ajudava-me e sabia que tinha mãe. Agora estou assim, sem nada, não tenho mais ninguém que me possa ajudar, peço ao Governo que me ajude", disse.
O julgamento começa agora depois de vários anos de pressão social. Muitos cidadãos diziam que o processo estava engavetado no tribunal, supostamente porque a vítima apoiava um membro da oposição, quando Manuel de Araújo pertencia ao MDM.
Debate público
À morte de Max Love em 2013, sucederam-se uma série de marchas e debates públicos para pressionar os órgãos da justiça a olharem para o caso.
Para o analista Ricardo Raboco, "há processos que podem estar há ainda mais tempo sem serem julgados".
"Nós sabemos das condições dos nossos tribunais", comentou. "À semelhança deste caso, há muitos que ainda não se sabe quando é que serão julgados, sob pena de os [crimes] prescreverem e os prevaricadores continuarem impunes", advertiu em entrevista à DW.
"Quero acreditar que é em função da prova que foi produzida, que de facto a justiça seja feita", acrescentou.
A juíza do caso, Natércia Gerónimo, não aceitou que o seu discurso fosse gravado durante o julgamento. A sentença do Caso Max Love deve ser conhecida no final de novembro deste ano.