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Moçambique: Jovens receosos com alegado recrutamento forçado

9 de fevereiro de 2020

Mesmo depois das garantias dadas pelo Governo de que não há recrutamento compulsivo para cumprimento do serviço militar no norte do país, jovens dizem-se receosos de sair à rua. Polícia já fez detenções.

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Mosambik Maputo Jugendliche fliehen vor angeblicher Zwangsrekrutierung
Mercado grossista do Zímpeto, MaputoFoto: DW/Romeu da Silva

Na cidade de Maputo, ninguém sabe ainda ao certo quem são os autores da informação sobre o alegado recrutamento militar compulsivo que agitou a capital moçambicana na última sexta feira (07.02).

Depois do Ministério da Defesa ter desmentido tal recrutamento forçado, exército e polícia continuam à procura dos autores da disseminação da informação, tendo já detido supostos envolvidos para averiguações.

No entanto, jovens entrevistados pela DW África dizem continuar com medo de sair às ruas. Um dos moçambicanos ouvidos pela nossa reportagem diz que a informação "está a causar problemas grandes para os cidadãos".

"Não sei se é verdade ou não. Temos muitas dúvidas. Existem muitos problemas aqui no país e as pessoas ficam baralhadas", afirmou outros dos jovens ouvidos. Um terceiro cidadão questiona: "Por exemplo, ouvi dizer que estava a polícia no Zímpeto. Então por que não prenderam essas pessoas que estão a recrutar?".

Mosambik Maputo Jugendliche fliehen vor angeblicher Zwangsrekrutierung
O alegado recrutamento militar compulsivo agitou, na sexta-feira (09.02), o Mercado grossista do Zimpeto, que ficou quase vazio. Foto: DW/Romeu da Silva

As imagens que foram postas a circular nas redes sociais nos últimos dias mostravam jovens em debandada, no maior mercado grossista de Maputo, o epicentro da agitação.  No entanto, em nenhuma delas aparece qualquer elemento do exército a protagonizar o tal recrutamento forçado. Aparecem apenas veículos da polícia que estavam lá para manter a ordem.

Depois do desmentido feito pelo o governo e também pelo exército, na sexta-feira, o diretor Nacional de Educação Cívico-patriótico no Ministério da Defesa Nacional, Carlos Mukamisa, assevera que não há recrutamento compulsivo no país e explica como se desenrola o processo de recrutamento em Moçambique: "Os jovens são convocados oficialmente e apresentar-se nos centros de recrutamento. Também os media são convocados para aferir o ato, pois trata-se de um ato oficial, decorrente da lei. Não há nada a esconder", afirma.

"Jovens devem estar vigilantes"

De acordo com Carlos Mukamisa, os jovens devem por isso continuar a sua vida normalmente e ajudar a polícia e o exército a identificar os autores da desinformação. "O jovem deve ser vigilante. Estamos a chamar à consciência patriótica dos jovens. Não podem disseminar mensagens sem analisar a sua veracidade".

Moçambique: Jovens receosos com alegado recrutamento forçado

Em entrevista à televisão privada STV, o analista político Tomás Vieira Mário, considera que os atos ocorridos na sexta-feira resultam do permanente medo que a sociedade vive por causa dos conflitos no centro e norte do país, que faz com que "qualquer sinal que nos põe em perigo achamos que é verdade porque sofremos muitos perigos na nossa sociedade". "Temos memória de perigo permanente e qualquer sinal nos põe em pânico. Temos esta história de guerras e de desastres e pouco pensamos no Estado", disse.

Os rumores de recrutamento forçado em Moçambique começaram há menos de uma semana. Mas, diz Tomás Vieira Mário, o governo devia ter reagido na hora, e explica porquê: "uma informação como esta é perigosíssima. Até porque já há quem diga que é o tal Al-Shabab que chegou a Maputo para recrutar pessoas. Então é uma informação tão perigosa que merecia uma reação imediata dos órgãos do estado no primeiro momento. Desmentir e dizer que sabemos quem está a fazer isto e que está sob controlo", afirmou.