Moçambique espera resolução do conflito, diz Ba Ka Khosa
18 de junho de 2014Ungulani Ba Ka Khosa faz parte das vozes coletivas que exortam o Governo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e o principal partido da oposição, RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), a entenderem-se em nome da preservação da paz em Moçambique.
“Todos nós queremos a paz”, afirma o escritor. Se forem necessárias, então “que se façam concessões de modo a que a paz se volte a estabelecer em Moçambique”, defende Ba Ka Khosa.
Em entrevista à DW África, em Lisboa, Ba Ka Khosa é contra qualquer cenário que contribua para o regresso à guerra. Reconhece que o contexto histórico não é favorável a nenhum extremismo, tanto por parte das forças governamentais como dos homens fiéis à RENAMO.
“O contexto vai levar a que todos se aproximem, por variadíssimas razões, e as próprias pessoas que têm memória do que foi a guerra no país”, sublinha o escritor.
Quem espera desespera
Ao microfone da DW África, o escritor repete que “ninguém quer a guerra”. E critica o tempo que as partes em conflito estão a levar para chegar a um acordo: “que os políticos levem tempo para chegar a um consenso isso é que desespera as pessoas e desespera a todos nós”, entende Ungulani Ba Ka Khosa.
Os desentendimentos entre o Governo de Moçambique e a oposição duram há vários meses e, nos últimos tempos, têm-se registado ataques quase diários no centro do país.
Nesta instabilidade, há “pessoas inocentes que estão a morrer”, lamenta o escritor moçambicano que, este ano, venceu o prémio BCI (Banco Comercial de Investimento) Literatura e, em 2007, o Prémio José Craveirinha de Literatura.
Mas “agora há uma luz ao fundo do túnel porque há eleições em vista e todos têm que se legitimar através do voto”, acredita Ba Ka Khosa.
Otimista, o escritor acredita “que nos próximos meses ou semanas haja as concessões possíveis para que depois se retorne ao caminho da paz” em Moçambique.
Moçambique é uma realidade melhor que ficção
Na qualidade de escritor, Ungulani Ba Ka Khosa considera que a vivência de toda esta realidade interna acaba por se transformar também num motivo de inspiração para as suas obras.
“Muitas vezes, a nossa realidade ultrapassa a ficção. Então se ultrapassa a ficção, o material é vasto e realmente vamos trabalhando sobre esta matéria”, comenta o escritor.
Uma das suas obras, “Memórias Silenciadas” – exposta na Feira do Livro de Lisboa –, transporta o leitor para a reflexão sobre o “Moçambique da primeira Constituição, é o Moçambique antes do pluripartidarismo, são algumas memórias e vivências que têm ficado à margem, silenciadas, esquecidas inclusive pelos protagonistas de hoje que foram protagonistas ontem”, descreve Ba Ka Khosa.
Os protagonistas da História do passado de Moçambique “continuam a ser protagonistas neste quadro democrático. O que é um caso raro porque geralmente quando há alteração de um quadro institucional ou constitucional, geralmente os protagonistas de ontem não têm campo aberto no novo quadro. Mas estes têm um campo, foram legitimados e vamos ver futuramente, através do voto, onde é que eles vão”, acrescenta o escritor.
Na literatura, o autor não exerce o “poder judiciário de julgar, mas antes a virtude de fazer chegar essas memórias, essas vivências” da História.
Não adianta o que está no prelo, mas o escritor moçambicano deixa pistas para um novo livro, quem sabe dentro um a dois anos.