Moçambique: Deslocados rejeitam estabelecer-se no Niassa
3 de janeiro de 2023Pelo menos 911 famílias refugiadas devido ao alastramento do terrorismo na vizinha província de Cabo Delgado rejeitam a ajuda governamental e social na província do Niassa, na esperança de ainda regressarem às suas zonas de origem.
Os deslocados receberam talhões para habitação e terrenos para a prática da agricultura que não estão a ser aproveitados.
Fryday Taibo, delegado do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), no Niassa, revela que essa situação se arrasta há dois anos. Segundo esta fonte, os deslocados são levados em viagens para a troca de experiências onde podem ver as condições em que outros deslocados se encontram. A ideia seria inspirá-los para que também eles se estabelecerem na região.
"Já levámos deslocados para Mecula para terem experiências do retorno das populações de Mecula que foram reconstruir as suas casas e voltámos para Malica e também não acontece nada. Levámos a Corane alguns deslocados para ver o tipo de construção", relata.
"Nós dissemos-lhes para cortar estacas, mas eles não querem cortar, porque querem que a gente traga as estacas", afirma.
Condições criadas
Dinis Vilanculo, secretário de Estado da província do Niassa, conta que há muito tempo que foram criadas as condições para que os deslocados tenham os seus espaços para a construção das suas habitações.
"Fizemos aqui um plano em 2020, mas eles negaram", começa por contar.
"Mesmo aqueles que estão em Marrupa, quando foi a vez de lhes indicar os campos, eles disseram 'não, daqui a nada nós regressaremos a Cabo Delgado", recorda o governante.
A governadora da província, Judite Massengele, diz-se preocupada com a situação dos deslocados e afirma que é necessário que os populares sejam sensibilizados porque, se a situação permanecer, o Governo não terá como prestar ajuda.
"Vai chegar a um ponto em que não vamos conseguir nem dar um quilo de arroz, nem dar uma tenda. A minha preocupação é essa. Eles dizem que vão sair, mas vão sair quando?", questiona.
"Se calhar, temos que fazer um trabalho de sensibilização porque não estou a ver até onde e quando vamos continuar a dar tendas", frisa a governante.
"Dormir nas tendas é dormir no chão", conclui.