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Moçambique: Daviz Simango apela a humanismo no DDR

Arcénio Sebastião (Beira)
2 de agosto de 2020

Autarca da Beira considera que desarmamento, desmobilização e reintegração "está muito longe" de acabar com conflitos na região centro e pede ao Governo que assuma a procura de uma solução para a Junta Militar.

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Daviz Simango
Foto: DW/A. Sebastiao

Daviz Simango lidera a autarquia da capital da província de Sofala, no centro de Moçambique, e está preocupado com a demora na resolução dos conflitos na região. Um ano depois da assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, os ataques continuam.

Em entrevista à DW África, o autarca e presidente do Movimento Democrático de Moçambique, terceira força política parlamentar, defende por isso celeridade e humanismo no processo de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) dos homens da RENAMO em curso.

"Há a informação de que 10% [dos homens da RENAMO] já estão integrados no processo de DDR e de que o processo irá até ao final do primeiro semestre do próximo ano", diz Daviz Simango. "Passou esse tempo, com altos e baixos, com vários argumentos - que ainda não são suficientes para convencer as pessoas porque é que não progredimos. A minha grande preocupação é que vamos ter de esperar mais um ano para terminar o DDR", lamenta.

Para o autarca, a lentidão do processo "fragiliza qualquer sentido patriótico daqueles que eventualmente devem ser integrados".

"O que é que eles farão durante um ano? É um ano inteiro à espera de oportunidades, um ano inteiro sem norte, um ano inteiro acantonado em condições difíceis", sublinha.

Mosambik ehemalige RENAMO-Guerillas
Ex-guerrilheiros da RENAMO reintegrados nas Forças de Defesa e SegurançaFoto: DW/D. Anacleto

Mais humanismo contra o sofrimento

"O nosso apelo é que este processo decorra da forma mais rápida possível", frisa Daviz Simango. "Nós não estamos satisfeitos com 10%, embora seja um passo que reconhecemos, porque está muito longe daquilo que permite acabar com parte dos conflitos que temos na região centro".

"Por outro lado, queremos encorajar quer o partido RENAMO quer o Governo para que sejam mais sensatos, mais humanistas em relação a esse processo de DDR", acrescenta o autarca, lembrando o "sofrimento de muitos anos no mato" dos envolvidos.

"É como se fosse um aluno que vai à escola, termina a faculdade, e tem esperança de ter um emprego e começar a ter uma vida. Os militares têm os instrumentos bélicos e quando os entregam subentendem que já têm o diploma e precisam de levar a vida com que sonham - como civis", considera. "Se nós retardarmos, se não formos justos com eles, naturalmente ficam frustrados. E as pessoas frustradas são pessoas vulneráveis".

Mosambik Sofala | Präsident von RENAMO | Ossufo Momade
Filipe Nyusi e Ossufo Momade no relançamento do DDR em Sofala, em junhoFoto: DW/A. Sebastião

Acabar com o "secretismo"

Daviz Simango alerta ainda para a necessidade de se encontrar uma "solução imediata e pragmática" para o grupo dissidente da RENAMO, a autoproclamada Junta Militar, que tem sido responsabilizada pelos ataques na região centro.

"O grande problema é que nós, que estamos de fora, entre políticos e sociedade civil, não temos o dossier, porque não participámos, não estivemos por dentro, o secretismo dominou e isolou toda a sociedade", diz Simango.

"Imaginem aqueles militares que eventualmente não foram consultados pelas suas chefias. E o tempo que eles ficaram no mato com o líder da RENAMO? Vinham programando, havia compromissos. É preciso olhar para isso sem preço, porque a paz não tem preço".

Para o autarca da Beira, a solução passa por "rapidamente convidar esses irmãos, sentando com eles e olhando para o futuro".

"Eu pouco acredito que a própria direção da RENAMO, por si só, irá chegar ao topo da montanha, porque há um conflito muito consolidado pelo tempo", afirma.

"Se tivesse sido resolvido antes, eventualmente hoje não teríamos conflitos na zona centro". O presidente do MDM aponta o dedo ao maior partido da oposição, que acusa de "relegar" a questão "para segundo plano".

"Agora, a nação é chamada. E quando a nação é chamada, o Governo tem de tomar a linha da frente, encontrar uma plataforma sólida de diálogo, dentro da humildade, compreendendo que são filhos de Moçambique, para que de facto não haja conflitos no futuro. O Governo tem de chamar a si a responsabilidade de evitar futuros conflitos", conclui.

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