Moçambique: As peixeiras de Inhambane
Em Inhambane, Moçambique, mulheres de várias idades vendem peixe para sustentar a família. Mas "as peixeiras" têm diversos desafios como a falta transporte e saneamento, que põem em risco a saúde pública.
Todos os dias, na praia
As "peixeiras" da província de Inhambane estão na praia todos os dias para adquirir o peixe que vão revender nos mercados, dentro das vilas, nas cidades ou até mesmo para fora da região. O mais curioso é que muitas delas não possuem contas bancárias porque o dinheiro está em circulação devido às necessidades, e não chega para poupança.
Quem dita os preços?
Os preços de cada qualidade de peixe têm provocado queixas. “Os pescadores decidem quanto pode custar [o peixe], dependendo dos dias e da quantidade. Quando é pouco, como nestes dias, o preço é alto”, dizem. Algumas vezes, os pescadores negam vender em pouca quantidade - principalmente o "carapau" moçambicano.
“Estou feliz por ser peixeira”
Graça Malaquias reside no bairro Chicuque, nas redondezas da cidade de Maxixe. Ela diz que está satisfeita com seu trabalho, que pratica há mais de 8 anos. Compra peixe na praia da Chefine e revende no mercado local. A sardinha, o tsakanhane e o carapau são os mais comercializados pelas peixeiras da província de Inhambane.
Longa caminhada pela praia
Conseguir uma bacia de peixe não é fácil para muitas vendedeiras de peixe em Inhambane. Elas têm que se deslocar em média 2 quilómetros pela praia devido ao distanciamento dos pontos onde se encontram os barcos. Mas afirmam “vale a pena caminhar para ganhar o dinheiro e sustentar a família”.
Companhia das peixeiras
Muitas mulheres em Inhambane esperam longas horas pelos pescadores que voltam do mar com os peixes. Ao longo da praia, as vendedeiras são acompanhadas pelas senhoras que praticam pequenos negócios - também em busca do sustento familiar. Há pobreza nas comunidades, e a região não possui boas terras para a agricultura.
Negócio para todas idades
O negócio praticado pelas peixeiras em Inhambane não tem idade entre as mulheres. Adolescentes submetidas ao trabalho acompanham as mães, e muitas desistem dos estudos. Grávidas precoces acabam virando “peixeiras com menor idade”, como são conhecidas nos diversos pontos.
Trabalho infantil
A prática deste negócio, que garante o sustento de muitas famílias em Inhambane, também é caraterizado com trabalho infantil. Principalmente de meninos que ajudam a carregar bacias de peixes da praia até a paragem dos carros que os transportam para vários destinos. Muitos desses rapazes, menores de idade, já abandonaram a escola.
Transporte precário
O peixe comprado ao longo da costa é transportado muitas vezes em carrinhas de caixa aberta, numa distância média de 7 quilómetros e em condições precárias para a saúde pública. As vendedeiras também correm riscos por falta da segurança rodoviária, mas não existem outras alternativas. Enquanto esperam melhores transportes, o cenário tem sido muito triste.
Imundice no local da venda
Muitos mercados construídos pelo Estado não têm sido ocupados pelas peixeiras por falta de segurança, energia ou outras condições para o negócio, como nas localidades de Vilankulo, Massinga, Maxixe e Inhambane. São áreas caraterizadas pelo défice de saneamento do meio, que contribui para eclosão de doenças nas comunidades.
Desistir?
As vendeiras de peixes interrogam-se a cada hora “por que não desistir desta atividade”? A resposta sempre está na ponta de língua: “Se desistir, o que vou fazer para o auto-sustento?". Mas elas acreditam que terão novas oportunidades dentro das comunidades, e pedem integração em projetos dos fundos pesqueiros financiados pelo Governo e ONG’s, dos quais a maioria é excluída.