Moçambique: As estrelas da oposição ofuscam Momade?
18 de novembro de 2023A RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, realizou vários protestos nas ruas do país a contestar os resultados das sextas eleições autárquicas. Há quem entenda que os protestos projetaram novas figuras no seio do partido, que estão a ganhar popularidade em Moçambique.
O comentador político Gil Aníbal considera que as marchas nas principais cidades do país são a projeção de uma RENAMO que pretende renovar a sua liderança.
"A RENAMO neste momento está em conflito interno sobre a liderança do partido. Daí que o Manuel de Araújo, o Venâncio [Mondlane], Raul Novinte, [Paulo] Vahanle, o [André] Magibire e mais outros quadros internos do partido RENAMO podem estar em frente destas manifestações como uma forma de usar a base que é a juventude que se manifesta pelas ruas para transmitir uma mensagem ao líder Ossufo Momade, de que ele não tem poderes para continuar na liderança do partido e daí forçar uma mudança ou queda do líder no próximo Conselho Nacional que possa acontecer", comentou.
Desafio interno
Mas o professor universitário, Sérgio Chichava tem um outro entendimento. "As marchas não fazem parte de um cálculo com esse propósito de atingir a presidência da RENAMO. Penso que faz parte da pretensão de contestar os resultados eleitorais, mostrar a indignação e procurar a solução para estes resultados que, ao que tudo indica, não foram transparentes", considerou.
Num contexto em que Moçambique se prepara para acolher as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais em 2024, Chichava anota, entretanto, que o maior partido da oposição enfrenta neste momento um dos maiores desafios.
"Num contexto em que também a FRELIMO não vai querer largar o poder, a RENAMO teria que se preparar muito bem, teria que ver se continua a apostar em Ossufo Momade que não é muito credível na opinião pública porque as pessoas acham que a RENAMO devia ter um outro candidato", referiu.
Contra-propaganda
A DW África ouviu o político Venâncio Mondlane, deputado da RENAMO e cabeça de lista deste partido para a autarquia de Maputo, que considera a associação das marchas por si lideradas a uma suposta pretensão de destaque como uma obra do partido no poder, a FRELIMO.
"Essa é uma tese feita à medida para pura e simplesmente criar uma contra-informação e, como se diz no provérbio, tentar dividir para reinar. Essa expressão é uma tática de comunicação e propaganda do partido FRELIMO. É só ver quem apresenta em público isso, são todos elementos do grupo subversivo da propaganda da FRELIMO para a comunicação social", opinou.
Manuel de Araújo, outro dos nomes apontados nessa suposta busca de protagonismo, com intuito de chegar à liderança da RENAMO, desvaloriza as alegações e considera os que veiculam a narrativa como vozes antidemocráticas.
O atual edil da cidade de Quelimane e cabeça-de-lista que concorreu à própria sucessão entende que, em contexto democrático, os membros de partidos políticos são livres de aspirar ao crescimento.
"Ambições políticas é um crime? Eu conheço o estatuto do meu partido. Em partidos democráticos, qualquer membro tem direitos e deveres e um dos direitos é poder ser eleito, poder concorrer para os órgãos da direção do partido", asseverou.
Será que as marchas de importantes elementos da RENAMO estariam a ofuscar o presidente Ossufo Momade? O professor universitário, Sérgio Chichava considera que não. "É um facto que Ossufo Momade é menos conhecido do que estas figuras, mas não é por causa das marchas. É que estas figuras muito antes das marchas sempre estiveram bastante ativas e em contacto com o eleitorado, com os média. Portanto, sempre souberam expor-se e expor as suas posições políticas. Isso é normal na política e é assim que um político ambicioso deve ser", concluiu.