Alice Mabota, primeira mulher candidata às presidenciais
15 de julho de 2019Alice Mabota, que submeteu esta segunda-feira (15.07.) a sua candidatura às eleições presidenciais de 15 e outubro em Moçambique, é a ativista mais conhecida na luta pela promoção dos direitos humanos no país, tendo sido fundadora e primeira presidente da Liga dos Direitos Humanos, por mais de duas décadas. Trata-se da primeira candidatura de uma mulher ao cargo de Presidente da República na história de Moçambique.
As eleições presidenciais contam a partir de agora com cinco candidatos. O atual Presidente da República, Filipe Nyusi, pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, Ossufo Momade, o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido do país, Daviz Simango, e Hélder Mendonça, pelo novo partido extraparlamentar PODEMOS.
Entrevista exclusiva de Alice Mabota à DW África após a entrega da sua candidatura ao Conselho Constitucional (CC).
DW África: Submeteu hoje a sua candidatura à Presidência da República de Moçambique para as eleições do próximo dia 15 de outubro. Qual é a sua pretensão com esta iniciativa?
Alice Mabota (AM): Pretendo abrir um espaço para que, nos próximos cinco anos, o Estado deixe de ser um Estado partidário, mas sim um Estado de moçambicanos em que estes possam concorrer em pé de igualdade, sem interferência dos partidos políticos.
DW África: O país regista nos últimos tempos muitos casos de violação dos direitos humanos. O que pretende fazer se for eleita?
AM: Tem que haver primazia da lei. Primazia da lei significa que as coisas devem funcionar como as leis mandam. Libertar a Justiça de interferências políticas, repor a dignidade do cidadão moçambicano no sentido de que ele está para servir o Estado, humanizando a educação, incentivando a educação, e entrar no combate à corrupção na educação.
DW África: Qual é a "varinha mágica" que vai usar caso seja eleita, para que a corrupção no país diminua ou seja banida?
AM: Fortalecer a sociedade civil para o controlo do Estado. Está a ver, neste momento, o que a sociedade civil forte está a fazer no caso das dívidas ocultas. Mas ela precisa de ser fortalecida com mecanismos legais, valorizando quem não esteja envolvido na corrupção. Hoje, quem não está envolvido na corrupção, não é desejado na função pública. Não é bom funcionário do Estado. O bom funcionário é aquele que prevarica.
DW África: As críticas face à forma como saiu da Liga dos Direitos Humanos (LDH) e as acusações de gestão danosa na Liga não comprometem a sua candidatura?
AM: Podem comprometer, assim como não. Se compararem aquilo que dizem da LDH com aquilo que lhes provei e aquilo que é do Estado, as pessoas têm que avaliar o que é mais grave. Eu saí da LDH depois de terem sido feitas três auditorias: uma da Ernest Young, que não encontrou os problemas que levantam, e duas feitas por entidades internacionais, uma sul-africana e outra norueguesa. Tenho a consciência tranquila de que não foi vertido a meu favor um único tostão, não tenho nada de riqueza que diga esta roubou dinheiro da Liga, pelo contrário a LDH não foi delapidada.
DW África: O seu trabalho ao longo do período em que esteve à frente da LDH é para si uma força motriz para esta candidatura?
AM: Quem deve dar valor ao trabalho que fiz são os próprios cidadãos, quando forem confrontados com esta candidatura. A vontade de mudança será dos próprios cidadãos. É o que me motiva para que avance.
DW África: A questão de ser a única mulher que já submeteu a candidatura à Presidência da República é para si uma mais-valia?
AM: Não é tão mais-valia como parece. A mais-valia é a juventude que compreende. A mulher moçambicana foi muito instrumentalizada pelos políticos.
DW África: Submete a candidatura, numa altura em que estão em discussão os resultados do recenseamento eleitoral, aliados aos números de eleitores de Gaza, onde há denúncia de terem sido recenseados mais de 300 mil eleitores do que esta previsto. Como é que reage a estes números? E como é que a sua coligação (Coligação Aliança Democrática) está preparada para fazer face às eventuais fraudes eleitorais?
AM: O que mais me entristece é que tudo isso acontece aos olhos dos sábios da comunidade internacional e se calam. Não faz sentido que haja uma discussão desses dados até o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) vir a confirmar que, de facto, isso não pode ser. E é vergonhoso que, num Estado como o nosso, tenha lugar esta discussão.
Artigo atualizado às 08:26 (CET) de 16 de julho de 2019.