Morreu a rainha Isabel II
8 de setembro de 2022Isabel II era a chefe de Estado de 16 países: rainha do Reino Unido e da Irlanda do Norte, bem como de toda a Commonwealth. Como monarca britânica liderava também a Igreja Anglicana.
Elizabeth Alexandra Mary Windsor nasceu a 21 de abril de 1926, em Londres, filha mais velha do rei Jorge VI e Elizabeth Bowes-Lyon. Não se previa, na altura, que pudesse um dia vir a ser rainha, sendo precedida na sucessão pelo seu tio, o Príncipe de Gales, mais tarde rei Eduardo VIII, e o seu pai.
Quando o pai adoeceu com cancro, a princesa Isabel passou a representá-lo em todo o mundo. O rei Jorge VI sucumbiu à doença a 6 de fevereiro de 1952, quando a filha estava em viagem oficial no Quénia. Foi pronunciada rainha nesse mesmo dia e coroada na Abadia de Westminster a 2 de Junho de 1953.
Rainha aos 25 anos
Antes, o seu tio Eduardo renunciara ao trono para casar com a americana divorciada Wallis Simpson. Isabel II nunca lhe perdoou esta decisão.
Os britânicos brincavam que a rainha pelo menos tinha uma formação profissional séria, porque aprendeu mecânica e a guiar camiões no Exército durante a Segunda Guerra Mundial. Foi, durante muito tempo, o único membro da família real a servir nas Forças Armadas.
O primeiro casamento real europeu do pós-guerra realizou-se a 20 de novembro de 1947, quando Isabel II casou com o príncipe Philip Mountbatten, duque de Edimburgo, descendente das famílias reais grega e dinamarquesa.
Isabel II levou muito a sério o juramento que fez de dedicar a sua vida ao povo britânico. Acabou por ter uma média de 500 atividades oficiais por ano, tornando-se na chefe de Estado mais viajada na História. Partiu centenas de vezes a bordo do iate real, HMY Britannia, incluindo para uma digressão mundial de seis meses em 1953-54.
A rainha visitou a Alemanha mais vezes do que quase qualquer outro país, a começar por uma viagem em 1965 à então dividida cidade de Berlim.
A família real britânica tem as suas raízes no Castelo de Callenberg em Coburgo, hoje na Baviera. Em 1840, o príncipe Alberto de Saxe-Coburg e Gotha casou com a sua prima, a rainha Vitória. Tiveram nove filhos. O rei Jorge V mudou o nome da família para Windsor em 1917, devido ao sentimento anti-alemão reinante durante a Primeira Guerra Mundial.
Crise real
Isabel II era uma pessoa que prezava a privacidade. Tinha uma afeição especial por cavalos e cães e uma propensão para a moda colorida. Durante o seu reinado, supervisionou 15 primeiros-ministros britânicos, de Winston Churchill a Liz Truss. Muitos escutaram com atenção os seus conselhos, embora a rainha tenha tido sempre o cuidado de manter as suas opiniões políticas escondidas do público, como manda a tradição. Todas as semanas encontrava-se com políticos. Mas fazia questão de falar também com juízes, sindicalistas, empresários e pessoas comuns convidadas para visitar o palácio.
1992 passou a ser conhecido como o 'ano horrível' da monarca. Um incêndio devastou parte da residência da família, o Castelo de Windsor. E os casamentos de três dos seus quatro filhos desabaram. A princesa Ana divorciou-se de Mark Phillips, o príncipe André separou-se de Sarah Ferguson, enquanto se tornavam públicas as dificuldades matrimoniais do príncipe herdeiro Carlos e da princesa Diana, divorciados em 1996. Foi nessa altura que o príncipe falou publicamente da relação contenciosa que tinha com a mãe.
A morte de Diana
A morte de Diana, que era muito popular não só na Inglaterra, num acidente de carro em Paris, em 1997, aprofundou a crise em que mergulhara a família real. Isabel II foi criticada por não ter cancelado imediatamente as férias da família. Muitos britânicos consideraram os seus comentários públicos como tardios e frios.
A rainha lançou mãos à obra para mudar a sua imagem e a da monarquia. Organizou um concerto de rock no Palácio de Buckingham para celebrar o seu 50º aniversário no trono em 2002, e deu a sua bênção ao casamento de Carlos e Camilla Parker Bowles, com quem o príncipe mantinha uma relação de décadas.
A imagem da monarquia sofreu novo revés quando veio a público a amizade entre o príncipe André e o empresário norte-americano Jeffrey Epstein, preso em 2019 por suspeita de dirigir uma rede de tráfico sexual. Voltaram a surgir acusações de abuso sexual de menores contra André, alegações que o duque de Yorque tem negado consistentemente. O príncipe retirou-se dos deveres reais.
Uma nova era
O país teve mais uma ronda de celebrações no seu 60º aniversário da rainha em 2012. Isabel II surpreendeu toda a gente ao aparecer para as câmaras ao lado do ator Daniel Craig – famoso pelo papel de James Bond - para abrir os Jogos Olímpicos de Londres nesse ano.
Os netos também ajudaram a modernizar a monarquia. O príncipe William e a sua mulher Kate são particularmente populares, e muitos britânicos gostariam que o herdeiro Carlos abdicasse em favor do filho. Uma rutura com a tradição que não teria sido do agrado da rainha.
Outra rutura com a tradição mal recebida no Reino Unido ocorreu em Janeiro de 2020, quando o irmão de William, príncipe Harry, e a sua mulher americana, Meghan, decidiram retirar-se das obrigações reais e viver nos EUA.
Numa rara declaração pessoal, a rainha disse respeitar e compreender o desejo do casal de viver "uma vida mais independente como uma família, permanecendo ao mesmo tempo uma parte valiosa da minha família". Esta resposta ponderada foi amplamente elogiada.
Em abril de 2021 morreu Philip, depois de um matrimónio de 73 anos. Isabel ficou sem o apoio da pessoa que descreveu como a sua "força".
Admirada, criticada, ocasionalmente ridicularizada, mas sempre respeitada: a rainha Isabel II proporcionou à sua nação estabilidade durante décadas. Durante o seu reinado, a monarquia foi raramente questionada pelos britânicos.