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Moradores da Gorongosa fogem para províncias moçambicanas vizinhas

De Noronha, Nuno23 de outubro de 2013

Após a rutura do Acordo Geral de Paz entre o partido da oposição - RENAMO - e o partido no poder - FRELIMO - e os incidentes armados em Maríngué, como está a situação no interior da província de Sofala?

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O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, defendeu nesta quarta-feira (23.10) que a atual tensão político-militar no país representa um teste aos moçambicanos que vai mostrar se a população quer mesmo a paz. O Presidente garante que a "solução está no diálogo" entre as partes.

Mas em Sofala, no centro do país, o exército tomou na segunda-feira (21.10) a principal base da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), onde se aquartelava o seu líder, Afonso Dhlakama. Esta incursão armada, levou o principal partido da oposição de Moçambique, a renunciar ao Acordo Geral de Paz que assinou em 1992 com o Governo da FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique.

Também hoje, o ministro da Defesa de Moçambique Filipe Nyusi, justificou o ataque com a necessidade de "desativar núcleos de terrorismo".

Populares abandonam a Gorongosa

Era na província de Sofala que Samuel Chamil, um trabalhador natural de Inhambane, vivia nos últimos tempos por motivos profissionais. Mas tal como centenas de outras pessoas, foi obrigado a abandonar a vila de Gorongosa com medo de um possível ataque da RENAMO e uma escalada da tensão com o exército.

Conta que fugiu para a província de Manica "para ver se conseguia estar num sítio mais seguro". Refere que 99% população abandonou a Gorongosa, e apesar de sempre ter sido uma vila com muita gente, agora conta que só se vê "homens das Forças Armadas".

Tal como explica Samuel Chamil, a ameaça da RENAMO de voltar a atacar a esquadra de Maríngué assustou as populações das montanhas da Gorongosa e levou-as a procurar refúgio nas províncias mais próximas.

Segundo as suas palavras,"as pessoas continuam com medo e muito gente está a abandonar aquele distrito. Os habitantes não se sentem seguros e estão a mudar-se para "províncias vizinhas".

Gorongosa "está mais calma"

Albert Joseph Kampunze, jornalista e locutor na Rádio Pax, na Beira, que tem contactado várias pessoas na província de Sofala indica que a população está a fugir "para zonas mais seguras" como "Beira, Caia e outras localidades". Contudo, revela que neste momento a situação na Gorongosa "está mais calma".

Segundo Albert Joseph Kampunze, os homens da RENAMO continuam instalados nos arredores de Maríngué, mas não se sabe exatamente onde, uma vez que a região recebeu reforços da Força de Intervenção Rápida e das Forças Armadas nas últimas horas.

Contudo, de acordo com o jornalista, o clima de tensão e a presença militar está a relembrar à população da guerra dos 16 anos. Diz que "a população grita" com "a mesma voz, o mesmo tom 'não guerra, não guerra'".

Bispos reunidos para traçarem estratégia

Albert Joseph Kampunze, que cita fontes da Rádio Moçambique, informa que D. Jaime Gonçalves, uma das personalidades que participou no processo de paz que conduziu ao Acordo de Roma de 1992, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique, está reunido em Maputo com outros bispos, como D. Dinis Sengulane, para tentar traçar uma estratégia para pressionar as partes a um diálogo com mediadores e assim voltar a um clima de paz em Moçambique.

A DW África tentou contactar o bispo Jaime Gonçalves, mas não obteve resposta.

O Bispo da Beira, Dom Cláudio Zuanna, garante que apesar da tensão, "as pessoas não entendem bem o que está a acontecer" e acrescenta que fora das zonas de confronto "a vida está totalmente normal". Contudo, perto do foco do conflito "as escolas estão fechadas e as pessoas estão desassossegadas".