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Momade diz que independência do país tornou-se um "pesadelo"

Lusa
24 de junho de 2021

O líder RENAMO criticou o ambiente político de intimidação, apesar de sucessivos acordos de paz. Momade acusou a FRELIMO de transformar a independência do país num "pesadelo" e de levar o país "num poço sem fundo".

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Mosambik: Ossufo Momade, Chef der größten Oppositionspartei RENAMO
Foto: Getty Images/A. Barbier

Ossufo Momade falava numa "comunicação à nação" alusiva à passagem, na sexta-feira, do 46.º aniversário da independência do país.

"Surpreende-nos que depois de vários acordos de paz, continuemos a viver num clima de intimidação e ameaça", afirmou o líder da RENAMO.

Ossufo Momade acusou a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, de ter coagido gestores de um hotel no distrito de Gúruè, província da Zambézia, centro de Moçambique, para não alojarem a sua comitiva, durante uma ação política do principal partido da oposição, na semana passada, apontando o caso como um dos exemplos de intolerância política.

"Para o arrepio de todos nós, a liberdade de imprensa e de expressão continuam a ser vítima de hostilização, numa clara violação ao direito à informação", acrescentou.

Esses acontecimentos, prosseguiu, mostram que a manutenção da paz e reconciliação nacional em Moçambique continuam a ser um desafio.

Ossufo Momade avançou que o seu partido está empenhado, com "afinco e sem reservas" no processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado da RENAMO, que resultou do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional assinado com o Governo em 06 de agosto de 2019.

Friedensvertrag Mosambik
Ossufo Momade diz que a RENAMO está com "afinco e sem reservas" no DDRFoto: DW/A. Sebastião

"Independência de Moçambique tornou-se um "pesadelo"

O líder do principal partido da oposição em Moçambique acusou ainda nesta quinta-feira (24.06) a FRELIMO de ter transformado os 46 anos de independência do país num "pesadelo", criticando a "resignação" face ao "sofrimento".

Moçambique completa na sexta-feira 46 anos de independência, proclamada em 25 de junho de 1975, depois de o território ter estado sob dominação colonial portuguesa durante um período que a historiografia oficial moçambicana estima em quase 500 anos.

O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) acusou a FRELIMO, movimento que libertou o país e governa o país desde a independência, de se ter convertido num "novo opressor" e substituído o regime colonial português.

"O sofrimento que enfrentámos durante os 46 anos de libertação do jugo colonial dói, sobremaneira, porque é infligido por irmãos moçambicanos que ontem vestiram-se de pele de cordeiro", disse Ossufo Momade.

O caminho escolhido pelos "novos opressores" resultou no desencadeamento da guerra civil dirigida pela RENAMO, durante 16 anos, até à assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, acrescentou.

Bildkombo Mosambik Ossufo Momade Filipe Nyusi
Líder da oposição moçambicana critica ambiente político de intimidação

"Foi neste mar de pesadelos que André Matade Matsangaíssa e Afonso Macacho Marceta Dhlakama [primeiro e segundo presidentes da RENAMO, respetivamente] decidiram romper com as algemas do regime marxista-comunista então imposto aos moçambicanos", enfatizou o líder da RENAMO.

FRELIMO leva o país para "um poço sem fundo"

Ossufo Momade afirmou que a FRELIMO foi obrigada a adotar a democracia multipartidária, mas o partido no poder tem subvertido sistematicamente as regras do Estado de Direito democrático, manipulando os resultados eleitorais.

Por outro lado, prosseguiu, "o regime que assaltou o poder do povo há 46 anos, de forma vertiginosa", está a levar o país para o que considera ser um poço sem fundo "por causa das más políticas setoriais, corrupção, partidarização do Estado, intolerância política, protecionismo, exclusão social e sistemático atentado ao esforço coletivo de construir a paz e a reconciliação nacional".

"Um dos pesadelos destes 46 anos", continuou Ossufo Momade, "é a dívida ilegal" de mais de 2,2 mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros) contraída pelo anterior Governo moçambicano, entre 2013 e 2014, à revelia da Assembleia da República.

"Este rombo financeiro constitui hoje o maior fardo do nosso povo por culpa de um grupo de ladrões e lesa-pátria", acusou Ossufo Momade.