Moçambique: Tribunais com dificuldades ao julgar terrorismo
11 de setembro de 2020O Tribunal Provincial de Pemba libertou esta semana 130 pessoas acusadas de estarem envolvidas em atos de terrorismo em Cabo Delgado. Fê-lo por falta de provas, condenando outros 120 indivíduos a penas de prisão.
"Nós não temos experiência no terrorismo. Historicamente o nosso país nunca teve situações de terrorismo como o que está a acontecer em Cabo Delgado. É como uma situação de emergência (...) de difícil solução", admite Luís Bitone, presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), justificando assim a queda da acusação que pendia sobre os 130 indivíduos.
Para este responsável, as autoridades judiciais têm de aprender a lidar com este fenómeno. "Precisamos de preparar tanto os magistrados, como todos os intervenientes da administração da justiça, incluindo a SERNIC [Serviço Nacional de Investigação Criminal] sobre como lidar com esta situação de terrorismo", diz Luís Bitone.
Um desafio para todos
Já o Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) defende que o terrorismo em Moçambique lança um desafio não só para as instituições da justiça, mas para todos. "Estamos a lidar com o terrorismo como uma situação que é nova e estamos a aprender também a trabalhar e a lutar contra o fenómeno", explica Hermenegildo Munjovo, diretor-executivo do IMD.
"Penso que o que tem que existir, neste exato momento, é a questão de não nos dividirmos, porque as fraturas entre moçambicanos é que vão permitir que o terrorismo, de facto, faça o seu respetivo triunfo", alerta o especialista.
O diretor-executivo do IMD lembra que os homens armados que têm estado a perpetrar ataques em Cabo Delgado não têm rosto, caracterizando-os como "mecanismos fora da esfera da democracia que não criam espaço para se poder dialogar".
"Por exemplo, nós como IMD, não temos conhecimentos das reivindicações que este grupo terrorista está a colocar [em cima da] mesa. É justamente por isso que nós achamos que é um desafio para o país, para os moçambicanos, para o próprio Governo e para alguns países vizinhos", adverte.
Desde 2017, vários ataques de homens armados no norte de Moçambique fizeram cerca de mil mortos e provocaram mais de 200 mil deslocados na província nortenha de Cabo Delgado.