"Samito não tem hipóteses de vencer as presidenciais"
21 de setembro de 2018Depois que o Conselho Constitucional chumbou o seu projeto de se candidatar às eleições autárquicas no município de Maputo em outubro próximo, Samora Machel Júnior deixou clara esta semana a sua intenção de se candidatar às presidenciais de 2019.
O facto do filho do primeiro Presidente de Moçambique independente (Samora Machel) ter ousado decidir candidatar-se a edilidade, à margem do seu partido FRELIMO, já foi interpretado como sinal de revolta. Como as hostes do partido no poder iriam lidar com a sua candidatura, como independente, às presidenciais?
O sociólogo moçambicano Elísio Macamo considera que "neste momento, pela forma como a FRELIMO está a reagir à esta situação seria uma afronta."
E não acredita na vitória de "Samito": "Mas acho que a candidatura de Samora Machel Júnior não tem nenhuma hipótese. Ao nível da edilidade de Maputo ele teria tido grandes hipóteses, tenho a certeza disso, mas ao nível do país penso que tem poucas hipóteses, a não ser que crie o seu partido e comece a trabalhar... e daqui a dez ou quinze anos esteja em condições de fazer frente à FRELIMO."
De há alguns anos para cá, a FRELIMO tem dado sinais claros de uma fragmentação contínua, embora consiga sempre evidenciar sinais de maturidade ao passar, nos momentos mais importantes, uma posição única.
Ameaça à coesão
Uma eventual candidatura de "Samito" às presidenciais seria uma ameaça mais séria a coesão do maior partido do país? O politólogo Pedro Nhacete está certo que sim: "Eu penso que sim, porque sendo membro do partido e aparecer [como candidato à Presidente] estaria a criar-se um outro centro de poder. Então, penso que ameaça realmente a coesão."
Será que o controverso processo de candidatura de Samora Machel Júnior às eleições autárquicas terá servido de balão de ensaio para o candidato medir a temperatura, principalmente do eleitorado?
Macamo acha que não e justifica: "A impressão que tenho é que está a tirar consequências da experiência desagradável que teve com as estruturas locais do partido e ele deve estar a pensar, como qualquer outra pessoa com ambição política em Moçambique pensa, que a única forma de influenciar a política em Moçambique é a um nível muito mais alto do que aquele que neste momento ele se encontra."
Apoio de uma parte da FRELIMO até que ponto?
De lembrar que a ousadia de Samito em contrariar a batuta da FRELIMO garantiu-lhe muitas simpatias, inclusive da oposição. Por outro lado, esta figura respondia ao perfil de um candidato jovem muito desejado pelos maputenses.
Isso sem falar que Samito carrega um nome de peso da política moçambicana e a sua madrasta, também alto quadro da FRELIMO, já se manifestou incondicionalmente ao lado dele. Graça Machel é tida como integrante de uma das alas da FRELIMO que se opõe a ala que hoje lidera o partido.
Quanto a um possível apoio desta ala a Samito, para o politólogo Pedro Nhacete "isso está bem claro, que essa ala é tão forte, que foi uma ala que conviveu com o pai dele, o falecido Presidente Samora, que também sentiu um pouco de exclusão dentro do partido. Isso poderia desencadear algum mal estar dentro do partido, isso é uma realidade e ninguém pode esconder isso."
A posição da sua madrasta é vazia de sentido
Mas o sociólogo Elísio Macamo considera que "a posição da sua madrasta é vazia de sentido. Se um individuo leva dois anos a preparar-se e ela não sabe, durante anos, então não sei que tipo de relação essas pessoas têm e não sei que tipo de valor esta afirmação tem quando alguém diz olha, apesar de você não ter dito nada durante dois anos você é meu filho e vou apoiá-lo."
E Macamo minimiza: "Acho que a posição dessa senhora em relação aos planos de Samora Machel Júnior é completamente irrelevante, temos de olhar só para o que ele diz e faz e deixar de lados pessoas que agem por oportunismo, como parece ser o caso nesta situação."
E finalizando o sociólgo menciona um ponto, que a seu ver, é positivo no aspirante a candidato: "O que acho importante nele é que ele tem consciência da importância que o seu nome tem e teve a coragem de usar esse nome para articular esse descontentamento dentro da FRELIMO em relação a certas formas de gerir o partido."