Nyusi diz que grupos armados são ameaça à independência
7 de setembro de 2020"O terrorismo que afeta alguns distritos do norte de Cabo Delgado é uma ameaça aos ganhos do 7 de setembro", afirmou Filipe Nyusi, numa declaração à nação, na cidade de Quelimane.
O Presidente moçambicano também pediu à dissidência armada da guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, a aderir ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), assinalando que as ações do grupo no centro do país são uma ameaça à paz.
O chefe de Estado proferiu as declarações, por ocasião do 46.º aniversário dos Acordos de Lusaca, assinados em 7 de setembro de 1974 pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), atual partido no poder, e pelo Governo português para o estabelecimento das condições de declaração da independência de Moçambique, em 25 de junho de 1975.
Sobre a violência em Cabo Delgado, Nyusi avançou que a ação dos grupos armados que atuam na província mina as liberdades conquistadas com a assinatura dos Acordos de Lusaca. "Os terroristas cometem crimes hediondos, sem dar o rosto, assassinam crianças, mulheres e homens e destroem bens", frisou o Presidente moçambicano.
Convivência pacífica
Filipe Nyusi repudiou a reivindicação da defesa do Islão que alguns dos grupos armados que protagonizam ataques no norte de Moçambique têm feito, assinalando que o país foi sempre conhecido no mundo pela liberdade e convivência pacífica entre religiões. "Aqui em Moçambique não existe um histórico que relata conflitos entre religiões e somos admirados no mundo por isso", destacou.
O país, prosseguiu Filipe Nyusi, deve manter-se vigilante em relação à utilização da religião para a justificação da violência. "Queremos capitalizar esta ocasião para convidar todos os moçambicanos, independentemente da sua ideologia, religião, inteligência e experiência, para o combate a estes males", salientou o chefe de Estado moçambicano.
A província nortenha de Cabo Delgado é alvo de ataques por grupos armados desde outubro de 2017, que já causaram a morte de, pelo menos, 1.059 pessoas em quase três anos, além da destruição de várias infraestruturas. De acordo com as Nações Unidas, a violência armada levou à fuga de 250 mil pessoas de distritos afetados pela insegurança, mais a norte da província.
Adesão ao DDR
Sobre o DDR, Nyusi defendeu que os membros da autointitulada Junta Militar da RENAMO devem aderir ao processo em curso e cessar os ataques que protagonizam na região centro do país. "É melhor saírem para se entregarem, não gostamos de andar em guerra e a caçarmo-nos como se fossemos animais", afirmou o Presidente moçambicano.
A autodenominada Junta Militar da RENAMO deve reconsiderar a sua atuação e cessar os ataques contra alvos civis e das Forças de Defesa e Segurança, porque são uma ameaça ao Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, acrescentou.
Nyusi apelou à direção e aos membros da RENAMO para persuadirem o líder da junta, o general Mariano Nhongo, a renunciar à violência e a respeitar o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. "Nem todos estão satisfeitos com os procedimentos que estão a ser seguidos no âmbito do acordo, mas não enveredam pelas armas", referiu.
Depois de um arranque simbólico no ano passado, o DDR esteve paralisado durante vários meses, tendo sido retomado em 4 de junho. Vai envolver 5.000 membros do braço armado do maior partido da oposição.
Apesar de progressos registados no processo, que teve como principal marco a assinatura do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional em agosto do último ano, a autoproclamada Junta Militar contesta a liderança do partido e o acordo de paz, sendo acusada de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estradas da região centro do país.
Artigo atualizado às 11h38 do Tempo Universal Coordenado