Moçambique: De barco à vela para a ilha de Inhambane
Os habitantes da ilha de Inhambane deslocam-se de barco à vela para as principais cidades continentais para vender e comprar produtos locais. Para enfrentar os dias de mar revolto, pedem ao Governo um barco a motor.
Apenas três dias por semana
Os únicos cinco barcos à vela privados que ligam o continente à Ilha de Inhambane só trabalham três vezes por semana: às segundas, quartas e sextas-feiras. Nesses dias, os habitantes locais transportam marisco para poderem ganhar dinheiro na cidade de Maxixe e são obrigados a pernoitar em casas de familiares ou amigos para regressar no dia seguinte.
Um euro para transporte
A maioria das pessoas que fazem a travessia três vezes por semana são mulheres. Muitas optam por viajar com os maridos, devido à necessidade de dormirem uma noite em Maxixe. O preço de ida e volta ronda um euro. Apesar de não ser elevado, os residentes locais pedem ao Governo que disponibilize um barco a motor para poder fazer as ligações nos dias de mau tempo.
Sem alternativas
Na ilha de Inhambane não existem lojas para grande comércio. Quando querem fazer compras, os locais deslocam-se à cidade de Maxixe. Os custos de transporte variam consoante a carga da mercadoria.
Também falta água na ilha
Amélia Rungo vive da venda de marisco seco em Maxixe. Viaja duas vezes por semana, porque o marido, que é pescador, nem sempre consegue produto suficiente para que a mulher o possa comercializar. Para ela, viver na ilha é melhor que viver no continente. Só lamenta a falta de transporte digno e de água, pelo que pede ao Governo a construção de um sistema de abastecimento de água potável.
Amêijoa seca, uma iguaria local
A Ilha de Inhambane é tida como o principal produtor de amêijoa, um dos ingredientes essenciais no caril de amendoim ou mesmo para confecionar a matapa, um prato feito à base de folha de mandioca. Vinte quilos desta iguaria custam dez euros. Ainda assim, as alterações climáticas dos últimos anos têm afastado este molusco da costa da ilha.
Revender para sustentar a família
Assim que as peixeiras desembarcam na costa continental, são procuradas por potenciais clientes. O camarão fino é outro dos produtos mais procurados. Vinte quilos podem custar cerca de vinte euros. Depois de despacharem a mercadoria, estas mulheres procuram abastecer-se de bens nas lojas do centro da cidade, que depois são revendidos na ilha.
Troca por troca
Flora Firmize também é residente na Ilha de Inhambane e vive do comércio de peixe seco nas cidades de Maxixe e Inhambane. O pescado é adquirido pelo marido que é pescador. "Venho vender peixe aqui em Maxixe, sendo que às vezes troco-o com outros produtos como por exemplo sal, açúcar, arroz e óleo para poder comer em casa com os meus filhos", conta. "Na ilha não temos outra alternativa", conclui.
Falta de turistas
Dinis Paulo é residente na Ilha de Inhambane desde que nasceu, há 54 anos. Não teve oportunidade de estudar e vive da pesca e do transporte de passageiros. Apesar de ser um dos poucos habitantes locais que possui barco, não tem conseguido fazer dinheiro com os transportes devido à falta de turistas na sequência da pandemia de Covid-19.
500 euros por um barco
As alterações climáticas têm sido um dos principais entraves a esta rota marítima que é percorrida sobretudo por quem vive do comércio de peixe e marisco. O ciclone Dineo destruiu grande parte dos barcos disponíveis. Uma embarcação, feita por especialistas em madeira, chega a custar 500 euros, uma quantia que para ser reunida exige vários meses de trabalho.
Cuidado com a pegada
Para visitar a Ilha de Inhambane, tem de se avisar as autoridades locais. Depois, é preciso arranjar "bilhete". Para isso, deve contactar-se os proprietários dos barcos para saber se existe transporte. Outro facto interessante: como são poucos habitantes, consta que na ilha todos se conhecem pelas pegadas. Se entrar um turista, os habitantes locais saberão reconhecer a presença de estranhos.