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Moçambicanos de Berlim querem falar com Nyusi

António Cascais18 de abril de 2016

A comunidade moçambicana acompanha com grande expetativa a visita do Presidente de Moçambique à Alemanha. Vários moçambicanos disseram à DW África que exigem um encontro com Nyusi, para lhe expor as suas preocupações.

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Foto: DW/A. Cascais

O Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, veio à Alemanha, acompanhado de uma comitiva de três ministros e vários empresários, para um visita oficial. Nesta terça-feira (19.04) será recebido com honras militares pela chefe do Governo alemão, Angela Merkel, assim como pelo Presidente Joachim Gauck.

Diáspora de "orelhas abertas"

A DW África marcou encontro com vários moçambicanos residentes na capital alemã. O primeiro interlocutor é António Chimussuane que vive na Alemanha há muitos anos: desde os tempos da extinta RDA. Chimussuane vai direto ao assunto: “Recebemos a informação da embaixada de que o Presidente iria estar aqui no dia 19, e fazemos questão de estar presentes para ouvir o que ele vai dizer. Ouvimos as suas palavras antes de ele tomar posse e agora estamos com orelhas abertas para escutar o que ele vai dizer à comunidade ´moçambicana na Alemanha.”António Chimussuane é um de cerca de 800 moçambicanos que ainda vivem na capital alemã. Como a maior parte dos moçambicanos, Chimussuane veio para a Alemanha no quadro de um programa de cooperação, assinado entre os Governos da Alemanha do Leste e de Moçambique, ainda nos tempos de Samora Machel. Chegaram a ser, ao todo, mais de 20mil trabalhadores e trabalhadoras moçambicanos na RDA, mas quando as duas Alemanhas se reunificaram, a maior parte dos moçambicanos teve que regressar ao país de origem. Ficaram apenas os que entretanto tinham adquirido a nacionalidade alemã, sobretudo através do casamento com cidadãos alemães.

Berlin - Mosambikaner António Chimussuane
António Chimussuane diz que vai escutar com atenção as palavras de NyusiFoto: DW/A. Cascais

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Antonio Chimussuane, "no fundo do coração", continua a sentir-se muito moçambicano e muito ligado ao seu país de origem: “Nós estamos preocupados com situação politica e económica e também com a situação dos moçambicanos na diáspora", conta ao repórter da DW, e adianta: "Esperamos que o Presidente nos dê a oportunidade de exprimir as nosssas preocupações e queremos expor os nossos problemas muito sérios na Alemanha. Estamos aqui há 30, 40 anos, e quando estávamos cá enviávamos 60 por cento do nosso vencimento para Moçambique e esse dinheiro nunca nos foi devolvido. Queremos esse dinheiro porque esse dinheiro é nosso.”

Moçambique não aproveitou o nosso potencial

José Albano, outro moçambicano residente em Berlim, não esconde ser simpatizante da oposição moçambicana, mais precisamente do "Movimento Democrático de Moçambique", MDM, e diz-se muito decionado com a FRELIMO, o partido de que faz parte o atual Presidente e todos os outros que governaram o país desde a independência.

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Vários dos moçambicanos de Berlim não escondem a sua simpatia pelo MDM.Foto: DW/A. Cascais

“O Samora mandou-nos para a Alemanha com o objetivo de um dia regressarmos e levarmos os nossos conhecimentos para Moçambique, mas não foi isso que aconteceu. Muitos de nós trabalharam em fábricas de cerveja, no setor textil ou nas minas, setores de que precisamos em Moçambique, mas os nossos conhecimentos nunca foram aproveitados, estamos aqui isolados." Albano lembra que Moçambique vai buscar mão de obra aos países asiáticos, ao mesmo tempo que "não aproveita a mão de obra patriótica que está aqui a apodrecer".

"Nyusi é um moçambicano como qualquer um de nós"

Augusto Vinheque, um moçambicano que sempre se empenhou pela comunidade na Alemanha, assumindo a presidência de várias associações, também fez questão de comentar a visita de Nyusi à Alemanha: “Se tivesse a oportunidade de falar com o Presidente eu cumprimentaria o homem como um moçambicano normal e pediria que nos resolvesse o problema dos nossos descontos, porque já estamos a chorar há muito tempo".

Skyline Berlin
Berlim: a capital da Alemanha é palco dos encontros de Nyusi ao mais alto nívelFoto: Imago/J. Tack

Enesto Milice, é um empresário de sucesso. Monta cozinhas em toda a Alemanha e conta com dezenas de colaboradores em Berlim e na Polónia. Milice promete tentar abordar o Presidente e "tocar nos assuntos" mais importantes: “Direitos humanos, a paz em Moçambique e o esforço de colocar Moçambique na rota do desenvolvimento económico.”

Maior preocupação: conflito político-militar em Moçambique

A maior preocupação de Ernesto Milice é, no entanto, a crise político-militar no país. E é essa a preocupação que Milice gostaria de exprimir numa conversa pessoal com o presidente.

“Nós queremos a paz e eu não vejo a razão porque em Moçambique não possa haver paz. Nós sabemos que a RENAMO trouxe problemas, mas o que interessa é a liberdade, a paz e a prosperidade." Milice faz questão de salientar: "Se eles se matam uns aos outros isso é com eles, mas - por favor - que não matem os civis." Finalmente Ernesto Milice deixa bem claro que o que está dizer "gostaria de dizer à frente do senhor Presidente".

Mosambik Maputo Präsident Filipe Nyusi
Filipe Nyusi vem à Alemanha acompanhado de três ministros e vários empresáriosFoto: picture-alliance/dpa/A. Silva

Para Benjamim Ndiabuane, o culpado pela tensão que se vive atualmente em Moçambique é o próprio partido no poder, a FRELIMO, de que faz parte o Presidente Nyusi. Benjamim promete tentar chegar perto do Presidente para lhe dizer isso mesmo:

“A FRELIMO tem a tendência de ser o partido único, não quer a democracia. É esse o meu ponto de vista. Caso tivesse a oportunidade gostaria de dizer isso, mas acho que näo vamos ter essa oportunidade".

"Por vezes sentimos medo de ir ao nosso país"

Adelina Albano é uma das poucas mulheres presentes no encontro improvisado do repórter da DW com a comunidade moçambicana em Berlim. Durante toda a conversa mantivera-se calada. Mas finalmente opta por desabafar:

“Eu nasci em Moçambique e ás vezes sinto medo de ir ao nosso país, de lá chegar e ser atacada. Queremos a paz, passar férias, curtir com a família e regressar para trabalhar. Dizem que a FRELIMO quando promete faz, mas faz o quê? Não faz nada. Estão crianças a morrer e os governantes bem sentados no ar condicionado." É isso que Adelina gostaria de dizer ao seu "concidadão" Filipe Jacinto Nyusi. Mas Adelina suspeita que vai ser muito dificil aproximar-se dele.

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Adelina Albano (à direita), moçambicana residente na Alemanha, gostaria de falar com o PresidenteFoto: DW/A. Cascais