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Mitos sobre a origem do coronavírus num laboratório chinês

Fabian Schmidt | mjp
21 de abril de 2020

Terá o novo coronavírus escapado de um laboratório chinês que investiga morcegos? Embora as origens do vírus continuem por esclarecer, o trabalho de alguns cientistas chineses está a ajudar a desenvolver uma vacina.

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Foto: picture-alliance/dpa/Xinua/Ma Ping

Investigadores e jornalistas especulam há meses sobre como é que o novo coronavírus, SARS-CoV-2, surgiu na cidade de Wuhan, na China. Indicações iniciais apontavam para um mercado onde o peixe era vendido ao lado de animais selvagens.

Agora, no entanto, meios de comunicação ocidentais avançam que o vírus pode ter tido origem no Instituto de Virologia de Wuhan. Teorias semelhantes circulam nas redes sociais desde janeiro, sobretudo ligadas a teorias da conspiração referindo alegados laboratórios militares chineses secretos que desenvolvem armas biológicas. Na altura, o jornal "Washington Post" afastou teorias de um vírus artificial, citando especialistas que avaliaram que as suas características apontavam para um vírus que ocorre naturalmente e não uma mutação fabricada pelo homem.

A avaliação foi confirmada por uma equipa de investigadores liderada por Kristian G. Andersen, que publicou as suas conclusões na edição de 17 de março da revista "Nature Medicine"

A confirmação desta avaliação pode passar também pelo facto de o trabalho deste laboratório não ser secreto e muita da sua investigação sobre vários vírus de morcegos estar publicada em revistas científicas. Parceiros ocidentais também têm estado envolvidos em vários projetos de investigação levados a cabo em Wuhan. Um deles é o Laboratório Nacional de Galveston, da Universidade do Texas. Segundo o jornal britânico "Daily Mail", o Governo dos Estados Unidos também deu apoio financeiro à investigação do laboratório em Wuhan.

De onde veio a primeira infeção?

Apesar de todas as indicações em sentido contrário, ainda não se pode afirmar com certeza que a pandemia não chegou ao mundo por acidente, através do laboratório de Wuhan.

O consumo de morcegos e o coronavírus

Em janeiro, a revista científica "Science" publicou um artigo questionando a teoria oficial de que o vírus tinha sido transmitido de um animal para um humano no mercado de Wuhan. E outro estudo publicado pela revista científica "The Lancet" concluiu que 13 das primeiras 41 pessoas diagnosticadas com Covid-19 não tiveram qualquer contacto com o mercado de Wuhan.

Além disso, é provável que o "paciente zero" - a primeira pessoa a contrair a doença – tenha sido infetada em novembro de 2019. Assim, os primeiros casos não teriam qualquer ligação ao mercado, tal como afirmou Daniel Lucey, um professor de doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, em entrevista à "Science Speaks", no final de janeiro. 

A culpa é dos investigadores?

Mas como é que o vírus chegou ao mercado de Wuhan? Shi Zhengli, professora de virologia no Instituto de Wuhan, que publicou as suas conclusões sobre vírus de morcegos numa edição de fevereiro da "Nature", pode ter a resposta. Numa reportagem sobre a professora, publicada no jornal "South China Morning Post", a 6 de fevereiro, Shi Zhengli explicou que tinha visitado 28 cavernas em várias províncias chinesas para recolher fezes de morcego. 

Tal como descrito em revistas como a "Scientific American", a professora usou essas amostras para criar um arquivo abrangente sobre vírus de morcegos. No início de 2019, Zhengli e os seus colegas publicaram um estudo extensivo sobre coronavírus de morcegos. O relatório notava que o morcego-ferradura era um vector para estirpes de coronavírus semelhantes ao que mais tarde apareceria em Wuhan.

Foi o trabalho da sua equipa que permitiu sequenciar e publicar o genoma do vírus de forma tão rápida, apresentando uma oportunidade sem precedentes para chegar rapidamente a uma vacina.

Ainda assim, nas últimas semanas, Shi Zhengli tem sido muito atacada nas redes sociais na Ásia e em todo o mundo. Os ataques levaram o seu parceiro de investigação baseado em Nova Iorque, Peter Dasnak, líder da EcoHealth Alliance, uma organização não-governamental focada na investigação científica e prevenção de pandemias, a sair em sua defesa publicamente.

Em declarações ao programa Democracy Now!, um programa de rádio norte-americano, Dasnak descreveu a teoria de que o vírus teria conseguido escapar do laboratório em Wuahn como "pura treta". Peter Dasnak disse ainda que tinha trabalhado pessoalmente no laboratório durante 15 anos e que não são armazenados vírus SARS-CoV-2 nas instalações.

"É mesmo a politização das origens de uma pandemia, e é mesmo triste", afirmou, referindo-se às histórias que sugerem qualquer ligação entre o laboratório e o surto.

Note-se, no entando, que o Governo chinês começou recentemente a censurar notícias sobre as origens do vírus. Quando confrontada com as acusações publicadas pelo "Daily Mail", a embaixada da China em Londres reagiu com indignação, classificando-as como "infundadas". A embaixada também divulgou um comunicado afirmando que a investigação visando descobrir as origens da Covid-19 ainda está a decorrer.