Missão internacional no Mali pode comprovar regionalização de intervenções
24 de outubro de 2012Nesta terça-feira (23.10), o ministro alemão para a Cooperação e o Desenvolvimento, Dirk Niebel, declarou o seu apoio para uma intervenção militar internacional no Mali. O exército alemão poderia ajudar na formação de soldados malianos.
Uma ideia que na segunda-feira (22.10) também foi defendida pela chanceler alemã, Angela Merkel. Um dia depois, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, também se pronunciou a favor de uma missão militar internacional de treinamento e de formação no Mali, à luz da decisão da União Europeia, tomada na última sexta-feira (19.10), de planear uma missão de treinamento no país ocidental africano.
O Mali, palco, em março, de golpe de Estado militar, tem o norte dominado por grupos fundamentalistas islâmicos, em parte ligados à rede terrorista internacional Al Qaeda. Foi essa dominância, aliás, o motivo para o golpe de março e o aumento da preocupação da comunidade internacional em combater o terrorismo na região norte do país.
A missão internacional no Mali seria mais uma para além das oito missões de paz das Nações Unidas em África. Porém, nem todas as intervenções da comunidade internacional em conflitos regionais têm sucesso, segundo avaliam especialistas ouvidos pela DW.
De que servem as missões internacionais de paz em África?
Desde 2007, a ONU mantém mais de 26 mil soldados e polícias na região de crise sudanesa Darfur. O seu mandato limita-se à manutenção da paz e à proteção, sobretudo, da população civil. A operação custa o equivalente a 1,5 mil milhões de euros por ano.
É verdade que, segundo a organização não governamental Sociedade para os Povos Ameaçados, não se registam aqui conflitos pesados há três anos. Mas o Darfur está longe de uma paz real.
No início de outubro, um ataque custou a vida a quatro capacetes azuis. Para assegurar uma paz periclitante, a ONU vai ter que manter os seus homens no tereno ainda por muitos anos. "As hipóteses de sucesso das missões de paz dependem sempre de muitos factores", comenta Tobias Pietz, do Centro de Missões de Paz Internacionais em Berlim.
Pietz salienta que muitas missões permanecem incompletas, e menciona aquela na República Democrática do Congo (RDC), iniciada em 1999. Apesar do envio total de mais de 20 mil capacetes azuis, prosseguem os conflitos entre as tropas de Kinshasa e várias milícias rebeldes no leste do país.
Preconizar sucessos ou fracassos é impossível, acrescenta o especialista. Por exemplo, na Libéria a ONU conseguiu, em 2003, pôr termo à guerra civil, e assegurar a realização de eleições democráticas. A operação militar internacional está a ser transformada numa missão puramente civil. Por outro lado, diz Pietz, "infelizmente a experiência mostra que muitas missões nunca chegam a ser concluídas".
Para a população civil, um aspeto determinante destas missões é decerto o mais importante: o especialista Pietz lembra um relatório recente de um instituto de pesquisa independente de uma universidade no Canadá, que constata que pelo menos o número de vítimas de guerras e conflitos armados recuou substancialmente desde que a ONU lançou as missões de paz.
Segundo Pietz, "uma missão nunca corre 100% bem nem nunca é um fracasso total. Há que ver que partes do mandado puderam ser concretizadas e avaliar a sustentabilidade das medidas tomadas", afirma.
Tendência de regionalização das missões de paz
Agora que a comunidade internacional parece prestes a intervir também no Mali, o especialista alemão aponta os paralelos com missões na Libéria e na Costa do Marfim.
Nos dois casos, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) apoiou com tropas suas missões de paz bem sucedidas das Nações Unidas. Na Costa do Marfim foi possível pôr termo à crise pós-eleitoral de 2010 e evitar que rebentasse a guerra civil, diz Pietz.
No entanto, o Mali é um caso especial, uma vez que as tropas deverão ser colocadas à disposição pela CEDEAO e a União Africana. Trata-se, diz Pietz, de uma tendência generalizada para a regionalização das missões de paz. Desde meados dos anos 90 que as tropas internacionais em África são compostas, sobretudo, por africanos, se bem que quase sempre apoiadas por elementos ocidentais, por exemplo militares franceses na Costa do Marfim.
No Mali, porém, vai ser diferente, diz Pietz.
Autor: Wulf Wilde/Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger/António Rocha