Missão da ONU na República Democrática do Congo ainda não terminou
30 de junho de 2011A República Democrática do Congo (RDC) não sobrevive sem os capacetes azuis – foi o que deu a entender, na última terça-feira (28/06), o Conselho de Segurança da ONU, ao prorrogar por mais um ano o mandato da Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco).
Com quase 20 mil soldados, a Monusco é uma das maiores e mais caras missões militares da ONU. Mas ainda assim, a organização não consegue controlar a situação no leste do Congo.
"Vocês não podem esperar que 20 mil soldados dêem conta da segurança de uma população de 10 milhões de habitantes, num território que é duas vezes maior que o da França", justifica Madnodje Mounoubai, o porta-voz da missão das Nações Unidas no Congo.
Ele explica que a Monusco trabalha em conjunto com o governo congolês para reforçar os organismos de segurança do país. "Apoiamos o exército, damos formação aos policiais para que estes estejam melhor preparados", explica Mounoubai.
Há 12 anos, a ONU enviou os primeiros capacetes azuis à Kinshasa. Na altura, 500 militares. Hoje, as 20 mil pessoas engajadas na Monusco custam 1,4 mil milhões de dólares, ao ano. E mesmo com todo o investimento, a guerra no leste da República Democrática do Congo não dá trégua.
Organizações de ajuda humanitária
A situação crônica é nas províncias de Kivu Norte, Kivu Sul e Maniema. Os rebeldes Mai-Mai e membros ruandeses das milícias da Força Democrática de Libertação do Ruanda (FDLR) vivem em esconderijos. A ONU estacionou 95% das suas tropas nestas localidades, porém a missão não consegue manter a região sob controle.
A organização de ajuda humanitária Heal Africa tem um hospital na fronteira com o Ruanda e trata vítimas de estupro e traumatizados de guerra. Um dos membros, Lyn Lusi, conta que as principais vítimas dos rebeldes são mulheres. "Crianças e meninas são raptadas por homens armados. Os homens das localidades são mortos", descreve Lusi.
A pergunta que não quer calar
Por que afinal a Monusco não consegue controlar a situação na RDC? Por um lado, por causa da geografia, defende Jean-Paul Dietrich que foi porta-voz desta missão entre 2008 e 2010, e hoje ocupada um alto cargo no exercito suíço.
"As milícias locais, especialmente a Força Democrática de Libertação do Ruanda, conhecem o território muito melhor que as forças armadas. Os rebeldes atuam em áreas imponderáveis. Nem a ONU e nem as forças de segurança no país possuem mobilidade suficiente para enfrentar as tropas com eficácia e forçá-las, de uma vez por todas, a abandonarem a área."
Dietrich ressalta porém, que a missão da ONU também contabiliza sucessos. Milhares de ex-rebeldes, por exemplo, foram integrados no exército congolês, o que é de grande valia para a desmobilização – ressalta Dietrich.
Durante as operações, os capacetes azuis dependem bastante do apoio da população civil. Mas esta porém, tem cada vez mais medo. Não foram poucas as vezes em que a ONU e as forças congolesas colocaram em jogo a confiança da população: soldados das Nações Unidas já exigiram sexo em troca de alimentos; e se abstiveram quando a população foi estuprada em massa por parte da FDLR.
Luz no fim do túnel
Quanto a decisão de prorrogar por mais um ano o mandato da ONU, Lusi está aliviado: "sabemos exatamente que se as Nações Unidas não estivessem aqui, teríamos o maior caos aqui", coloca ele.
"As pessoas reclamam dizendo que esperam mais engajamento da Monusco. Às vezes, eu acredito que as expectativas são irrealistas. A situação poderia ser ainda pior se os capacetes azuis não estivessem aqui", finaliza Lusi.
Autora: Stefanie Duckstein / Bettina Riffel
Edição: António Rocha