Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau apresenta demissão
13 de dezembro de 2013Delfim da Silva disse que a demissão é "uma forma de protestar" contra o incidente de terça-feira (10.12) com um voo da TAP entre Bissau e Lisboa.
Recorde-se que nesse voo a tripulação foi obrigada por autoridades guineenses a descolar com 74 passageiros sírios portadores de passaportes falsos, mesmo depois de detetado o problema, o que levou a companhia aérea portuguesa a suspender os voos entre os dois países.
A demissão do chefe da diplomacia guineense surge por causa do incidente, "mas não é só isso", segundo disse o próprio Delfim da Silva à LUSA, referindo que outras situações têm ferido a credibilidade da Guiné-Bissau no exterior.
O ministro demissionário responsabiliza "gente ligada à imigração e segurança, que está relacionada com isto".
"Há cumplicidades", sublinhou, tendo explicado que "para aquela gente passar aqui uns dias e depois ir para Lisboa como foi é porque houve cumplicidade entre pessoas que tinham a obrigação de proteger o país e não protegeram", reforçou Delfim da Silva.
Reconquista da confiança internacional derrapa
O governante entregou a carta de demissão ao presidente de transição, Serifo Nhamadjo, e aguarda agora por uma decisão do chefe de Estado. Mas, seja como for, o ministro dos Negócios Estrangeiros pretende contudo continuar na atividade política.
Delfim da Silva destacou o facto de ter participado nos últimos meses em fóruns internacionais, em Nova Iorque e Paris, e considerou que o incidente desta semana arruína os esforços feitos nesses encontros para o país reconquistar a confiança internacional.
Entretanto, a transportadora aérea portuguesa decidiu realizar no sábado (14.12.) um voo especial para Dacar e já tem um avião fretado para assegurar a ligação a Bissau.
A companhia aérea portuguesa, que assegurava três voos semanais (segunda-feira, quinta-feira e sábado) para a Guiné-Bissau espera que "este voo especial resolva o transporte dos passageiros que tinham voo para ontem (12.12.) e para sábado (14.12.)", segundo fontes da TAP citadas pela LUSA.
Instaurada comissão de inquérito
O Governo de Bissau criou uma comissão de inquérito que deve apresentar resultados até a próxima quarta-feira (18.12.).
A comissão foi criada por despacho do primeiro-ministro de transição, Rui de Barros, e é composta por três elementos: o ministro da Justiça, Saido Baldé (que preside a comissão), um representante do ministério dos Transportes e outro do gabinete do chefe de Governo.
Não integram a comissão representantes dos ministérios do Interior (que tutela a segurança) e dos Negócios Estrangeiros, "por se considerar que já estão implicados no processo", explicou Saido Baldé à agência LUSA.
O ministro do Interior disse que a comissão reuniu-se pela primeira vez nesta sexta-feira (13.12.) e, de acordo com o despacho, deverá produzir resultados "no prazo de 48 horas, a contar a partir de segunda-feira. Só depois dos resultados Bissau apresentará o seu posicionamento sobre o assunto.
Guiné-Bissau uma rota de emigrantes
Manuel Ennes Ferreira, investigador do Grupo África do Instituto Português de Relações Internacionais, considera que o caso configura "uma coisa pontual e mal calculada".
Em declarações à LUSA, ele admite, por outro lado, que, "dado o estado caótico do próprio Estado guineense, tudo é possível", e que a Guiné-Bissau pode estar já
servir de "plataforma para a imigração ilegal".
O investigador vê com bons olhos a suspensão das ligações entre Bissau e Lisboa e realça: "Uma coisa destas não podia passar em claro, é grave no sentido
da ilegalidade."
Mas Manuel Ennes Ferreira destaca, "conclua-se o que se concluir", se os cidadãos em causa forem efetivamente sírios, o Estado português "deve atender a este lado
humanitário do pedido de refugiados, independentemente de eles até saberem
à partida, ou não, que era um esquema que não era bem legal".