Merkel em Portugal: "África é um grande desafio"
31 de maio de 2018A chanceler alemã concluiu esta quinta-feira (31.05) uma visita oficial de dois dias a Portugal, a convite do seu homólogo português, António Costa, para reforçar a cooperação luso-germânica.
Apesar de alguns pontos de vista divergentes, Merkel e Costa conversaram sobre o futuro da Europa e o novo quadro financeiro, mas também falaram sobre os desafios conjuntos em prol do desenvolvimento do continente africano, de onde chegam todos os dias imigrantes ilegais em busca de uma vida melhor na Europa.
O esforço de desenvolvimento de África é um grande desafio para ambos os países, considera a chanceler alemã. "Foi também de grande interesse falar com o primeiro-ministro português sobre África. É um grande desafio para nós, enquanto continente vizinho. E as iniciativas quanto ao desenvolvimento em África ainda não são tão contínuas e dinâmicas como desejamos", admitiu Merkel numa conferência de imprensa, em Lisboa.
A visita a Portugal resultou no reforço da cooperação empresarial, com destaque para a área da tecnologia e da inovação, tendo o futuro da Europa como pano de fundo. "A minha última visita foi há cinco anos. E, de facto, hoje Portugal apresenta-se numa situação mais otimista e isso é motivo de alegria para mim", declarou. "Tivemos a oportunidade de visitar investimentos muitos interessantes, como o Centro Tecnológico em Braga, da Bosch, e o Instituto I3S, onde falamos com os estudantes sobre a Europa".
Relações "muito estreitas"
Apesar de todas as diferenças, salientou Angela Merkel, as relações bilaterais são "muito estreitas" e "muito boas". Numa reunião à porta fechada, Angela Merkel e António Costa, acompanhados das respetivas comitivas, analisaram as relações de cooperação bilateral, a situação na Europa, o atual cenário após a saída do Reino Unido da Zona Euro, mas também a situação em Itália.
O primeiro-ministro português realçou o facto desta segunda visita de Merkel ter lugar já quando Portugal conseguiu ultrapassar os riscos da crise de 2011. "Fico satisfeito que a chanceler Merkel possa ter regressado a Portugal num momento diferente da nossa vida, depois de termos virado a página da crise económica e financeira, de termos saído do procedimento por défice excessivo, termos uma trajetória sustentável de redução do nosso défice e da nossa dívida e, sobretudo, estando agora com o melhor crescimento económico que tivemos desde a adesão ao euro e com a criação de emprego mais elevada das últimas décadas", disse António Costa.
Portugal reconhece que é preciso continuar a trabalhar tendo em vista vencer os défices estruturais, em particular na área das qualificações, também tendo como objetivo a convergência com a União Europeia (UE).
O encontro com António Costa aconteceu depois de Angela Merkel ter sido recebida no Palácio de Belém, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo líder da oposição, o social-democrata Rui Rio, com o futuro da Europa também na agenda, pouco depois de Lisboa receber a notícia de que vai receber menos dinheiro, com corte de 7% dos fundos estruturais e de coesão.
"Neste momento, a Europa vive um momento crucial, com um Conselho Europeu muito importante, onde podemos tomar decisões sobre o futuro quadro financeiro, sobre a política de migrações, sobre a reforma da zona euro", destacou o primeiro-ministro português. Por isso, acrescentou Costa, "é importante que os líderes europeus intensifiquem os contactos e procurem encontrar soluções comuns que respondam positivamente aos cidadãos."
Investimento tecnológico alemão
Na quarta-feira (30.05), primeiro dia da sua visita a Portugal, a chanceler alemã esteve no norte do país, com atenção centrada na tecnologia e na investigação. Em Braga, inaugurou o novo Centro de Investigação e Desenvolvimento da Bosch, que receberá mais 100 engenheiros até o final de 2018. A multinacional alemã ali instalada há quase 20 anos dá assim um sinal claro de que Portugal é cada vez mais importante para a sua estratégia de investigação e desenvolvimento em todo o mundo.
Entre 2015 e 2017, foram investidos cerca de 200 milhões de euros no país. Este ano, os investimentos planeados estão no mesmo nível dos anos anteriores. O Grupo Bosch submeteu uma nova candidatura a fundos europeus para projetos a serem desenvolvidos a partir do novo centro de T&D em parceria com a Universidade do Minho. A candidatura, atualmente em fase de aprovação, prevê o investimento de 36 milhões de euros entre 2018 e 2021.
No Porto, Merkel inteirou-se das atividades do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S). Na Universidade do Porto, participou num debate com estudantes de doutoramento, no âmbito da iniciativa"Encontro com os Cidadãos sobre o futuro da Europa".
A chefe do Executivo alemão esteve em Portugal em novembro de 2012, quando o país atravessava uma fase difícil de crise económica e financeira, situação que levou ao desinvestimento e ao desemprego elevado. Com esta visita, o Governo português reforça o apreço pelo investimento alemão e reafirma a posição geo-política de Portugal como plataforma estratégica para a entrada noutros mercados, nomeadamente em África e na América Latina.