Membros do poder acusados de usurpação de terras no norte de Moçambique
16 de dezembro de 2014Em causa está uma área de cerca de 40 mil hectares de terra que foi negociada e reservada pelo antigo presidente do município de Lichinga, capital da província do Niassa, para a construção de habitações destinadas aos munícipes do bairro de Nzinje. Como se trata de uma zona de risco, os munícipes têm de ser deslocados.
Há três anos, a Câmara Municipal de Lichinga já tinha preparado uma lista de quem iria mudar para a nova zona. Mas o que se verifica atualmente é que os terrenos já têm outros ocupantes.
Entre os novos proprietários estão pessoas influentes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder, incluindo ao actual presidente do município de Lichinga, Saide Amido.
Moradores protestam
Os moradores protestaram na última sexta-feira (12.12) e tentaram impedir o parcelamento de algumas áreas. Para conter os ânimos dos habitantes foi necessária a intervenção da polícia.
Jacinto Pedro, um dos lesados no processo, disse à DW África que os terrenos estão a ser vendidos por técnicos do Conselho Municipal por valores que variam de 30 a 70 mil meticais (entre 700 a 1700 euros).
“O que está a acontecer agora é que as pessoas estão a reivindicar”, afirma, explicando que há três anos, ainda durante o mandato do presidente cessante, Augusto Assique, foi feita “uma lista de pessoas que agora estão a reivindicar os lugares que eram seus”. O município, por sua vez, “leva os técnicos e está a atribuir terrenos a pessoas cujos nomes não estão na lista”, acrescenta.
Por outro lado, Jacinto Pedro reclama que a venda de terrenos é um negócio que envolve as autoridades municipais e os respetivos secretários dos bairros da FRELIMO. “O atual presidente já está a construir e já está a fazer pequenas machambas no terreno. E as pessoas aqui estão sem terrenos”, lamenta o morador.
Angelina Ali, outra moradora em conflito, afirma que caso o problema não seja resolvido irão continuar a lutar contra a impunidade, uma vez que os terrenos destinados a pessoas com necessidades estão a ser vendidos a outras pessoas.
“Terrenos para projectos”
Mustafa Fasoroduto, membro da comissão dos secretários do bairro da FRELIMO e responsável pela gestão dos terrenos, acusou os moradores de incitação à violência. E diz que os terrenos ocupados são destinados a projectos.
“Vivemos de projetos. E as pessoas não estão proibidas de desenhar projetos e de remetê-los ao serviço urbano. Têm direito a fazê-lo. Há espaços que podem ser ocupados com projetos e outros que não”, defende Mustafa Fasoroduto.
O Conselho Municipal da cidade de Lichinga prometeu pronunciar-se sobre o assunto nos próximos dias.