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Masta Tito, um rapper sem medo de cantar "as verdades"

Fátima Tchumá Camará (Bissau)2 de dezembro de 2015

As músicas do rapper Masta Tito podem ser duras de ouvir, mas retratam a realidade da sociedade da Guiné-Bissau. Tecem sobretudo fortes críticas aos governantes do país. O guineense tornou-se uma celebridade.

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Foto: DW/F. T. Camará

Ninguém escapa às críticas de Masta Tito: nem o Presidente guineense, nem ministros ou generais. O rapper é um jovem discreto, mas bastante interventivo. As suas músicas são tocadas em todas as rádios guineenses e retratam o dia-a-dia da Guiné-Bissau, focando as atitudes dos governantes.

"Tchiquero" ("Pocilga"), "Ké kuna medi" ("Porquê ter medo") e "Fossa" são três temas que colocaram Masta Tito nos píncaros da fama na Guiné-Bissau. Mas o músico conta que a ousadia já lhe valeu espancamentos pelos militares. No entanto, Masta Tito promete que não parará com as críticas enquanto não houver mudanças.

"Enquanto os militares, os políticos e a sociedade guineense, os médicos, enfermeiros, não mudarem, o Masta Tito continua sempre a cantar, a criticar de uma forma construtiva. Se não há luz, o Masta Tito diz que não há luz. Se não há água, diz que não há água", afirma o rapper.

"O que ele canta é verdade"

Masta Tito, de 32 anos, assume-se como a "voz dos oprimidos" e daqueles que não têm coragem de dizer o que lhes vai na alma, perante os abusos dos dirigentes.

Guinea-Bissau Rapper Masta Tito
Masta Tito: "Enquanto os militares, os políticos e a sociedade guineense, os médicos, enfermeiros, não mudarem, o Masta Tito continua sempre a cantar"Foto: DW/F. T. Camará

Um fã, ouvido pela DW África, concorda: "Aprecio e gosto das músicas do Masta Tito, porque, apesar de ter mensagens fortes, acaba por espelhar toda a realidade político-militar e a má governação." Uma jovem acrescenta que "o que ele canta é verdade. Se não acontece acaba por acontecer."

Até à morte, como Cabral

Há uma atuação que, ainda hoje, está na memória de muitos guineenses: o "show" que o rapper deu no Clube Militar de Bissau, em 2012. Masta Tito entrou em palco num caixão para mostrar a sua firmeza em denunciar a corrupção e má governação na Guiné-Bissau - até à morte, se for necessário:

"Eu decidi: posso morrer. Amílcar Cabral morreu pela Guiné-Bissau; muitos combatentes da liberdade da pátria morreram para um dia termos paz, estabilidade e sossego no país."

O sonho de gravar um álbum

À semelhança de outros artistas guineenses, o rapper não vive só da música. Estuda atualmente gestão de empresas no Senegal e trabalhava como animador num projeto que intervém no domínio da saúde reprodutiva, no sul da Guiné-Bissau. É aí que passava grande parte do seu tempo. Volta e meia vai à capital guineense para dar concertos.

Masta Tito começou a carreira em 2000 e ainda não gravou nenhum álbum, mas já tem um repertório de 32 músicas. O rapper diz que ainda tem esperança de, um dia, gravar o primeiro CD de originais.

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"Anteriormente, tinha muitas dificuldades para conseguir gravar as minhas músicas. Andava a bater de porta em porta, pedindo ajuda a amigos, irmãos. E fazia-o também com o meu esforço", afirma o músico.

"Até agora, não tenho condições para conseguir gravar um álbum, porque, aqui na Guiné, não temos um estúdio profissional."

Masta Tito quer ter o seu próprio estúdio para, finalmente, poder gravar o seu primeiro álbum e não só: "Quero apoiar aqueles que estão a começar na cena musical, para não passarem pelas mesmas dificuldades por que eu passei."

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