Maputo acolhe marcha pela proteção de elefantes e rinocerontes
2 de outubro de 2014A iniciativa é organizada por várias organizações não-governamentais e cidadãos. Dão a cara pela marcha figuras conhecidas, desde atores, músicos, escritores até futebolistas e apresentadores de televisão. O elevado índice de abate ilegal das espécies desencadeou o movimento.
Moçambique é um dos países com maior índice de caça ilegal no mundo. As autoridades locais estimam que cinco elefantes sejam abatidos diariamente, bem como uma perda de 90 milhões de dólares anuais.
A DW África entrevistou um dos envolvidos na marcha, o ambientalista Carlos Serra Júnior, da ONG Justiça Ambiental.
DW África: Como surgiu a ideia de fazer esta marcha global pela proteção de elefantes e rinocerontes?
Carlos Serra Júnior (CSJ): Um conjunto de cidadãos e de organizações, de forma muito espontânea e sem haver necessariamente uma organização especial que seja promotora, porque não existe, juntou-se a esta edição e resolveu convidar todo um conjunto de outras instituições, organizações, cidadãos para mobilizar realmente esforços na sociedade civil moçambicana.
E juntando também apoios vindos de outros segmentos da nossa sociedade, o setor privado, o próprio setor público que é importante, a academia. E, de facto, uma coisa que começou por ser pequena já se tornou algo muito maior que qualquer um de nós imaginava no início. Em poucas semanas conseguimos uma mobilização espantosa para uma marcha ambiental. Não será uma marcha no sentido literal. Não é uma simples marcha em que cidadãos vão marchar.
Neste momento é um conjunto de marcha e cortejo, porque também vamos ter elementos móveis. Vinte txopelas [motociclos de três rodas] serão transformadas em elefantes e rinocerontes, principalmente por crianças. Vamos usar lixo para transformar txopelas, um símbolo de Maputo, para mostrar que seres humanos e animais podem viver em equilíbrio. Temos já acima de 30 motociclistas confirmados. E também temos alguns camiões de apoio, pelo menos três.
DW África: Em relação à campanha do ano passado, esta campanha tem muito mais visibilidade e até nomes conhecidos a darem a cara.
CSJ: Sim, é isso mesmo. É outra estratégia. Penso que o contexto nacional ajudou muito. Acho que as imagens que vimos nas televisões das matanças a acontecer no Kruger Parque, bem como na Reserva do Niassa ou nas Quirimbas, em Cabo Delgado, começaram a mobilizar uma certa opinião pública nacional que estava muito apagada neste sentido. Hoje, isto tornou-se também um assunto nacional, começa a ganhar corpo como assunto nacional.
DW África: Acha que há mais consciencialização em relação a este assunto em Moçambique?
CSJ: Não há dúvida. Porque quando avançamos para o desenho de um spot, por exemplo, utilizando as redes nacionais, ninguém imaginava que de repente fossem os próprios artistas a contactar-nos e a perguntar se não gostaríamos que também dessem a cara para nos ajudar. E disseram: eu também quero filmar um spot.
Porque esta causa é uma causa de todos nós, é uma causa nacional e também uma causa global. Moçambique está com uma imagem muito má lá fora, especialmente no contexto da conservação, e todos temos a responsabilidade de mostrar que nós, moçambicanos, não somos só caçadores furtivos.
Temos realmente um problema de envolvimento de cidadãos nacionais na caça e principalmente na comercialização, no tráfico. E o tráfico movimenta a caça. Mas temos muita gente que está a dar a cara e a fazer algo para melhorar esta situação. E é claro que quando um artista dá a cara por esta causa, ele arrasta uma multidão. Achamos que esta estratégia, que se usa lá fora, é muito importante e aqui é inédita. Vemos muita gente a dar a cara pela causa do ambiente, pela causa da conservação.
DW África: Entretanto, em Moçambique foi aprovada recentemente uma lei considerada severa com vista a limitar este índice elevado de caça furtiva. Também no norte foram detidos supostos caçadores ilegais, tanzanianos e moçambicanos. Parece que há alguns sinais de ação por parte das autoridades em Moçambique. Como vê estes últimos acontecimentos?
CSJ: A lei já é um resultado palpável, mas não resolve por si o assunto. Agora temos um exercício que é fundamental que é a implementação. É para isso que esta campanha também vive. A pressão tem que existir, e até também no sentido positivo, para que fiscais e todos os nossos operacionais e magistrados atuem na defesa do interesse nacional. Há razões também económicas e sociais profundas. O tráfico requer a mobilização nacional, mas seguramente há todo um trabalho que tem de ser feito com os países vizinhos e com os países de destino do nosso marfim e naturalmente do chifre do rinoceronte sul-africano.