Malianos aplaudem decisão francesa de retirada de tropas
18 de fevereiro de 2022Continuam a surgir reações sobre a decisão da França, ao lado dos seus parceiros europeus e africanos, da retirada "coordenada" das tropas do Mali, anunciada na quinta-feira (17.02).
Malianos, que há 9 anos aplaudiam a chegada as forças estrangeiras, hoje estão satisfeitos com a retirada. "Estou muito feliz porque tropas francesas vieram para encontrar uma solução, mas se não há solução, e eles vão embora, isso é bom", diz um cidadão ouvido pela DW.
"O que eu desejaria agora é que a operação Barkhane saia o mais tardar até sexta-feira à noite. Se tivermos de morrer, morreremos. Se tivermos de ser salvos, seremos salvos. A chegada dos russos não será a mesma que a chegada dos franceses. Os franceses têm os seus próprios interesses, enquanto a Rússia mostra diretamente o que quer ajudar. A França manipula muito", considera outro maliano.
Há ainda que deposite confiança na Junta Militar, que assumiu o poder através de golpe de Estado: "Desejamos que Assimi Goita cumpra a sua missão de assegurar o país e também sair do franco CFA, para criar a nossa própria moeda, que poderia criar o Mali de amanhã, como todos os malianos desejam."
Saída nos próximos meses
A França possui uma das suas maiores operações militares no Mali desde 2013, com a operação Barkhane a envolver atualmente cerca de 4.300 efetivos no Sahel e cerca de 2.500 estão no Mali.
O desmantelamento da presença militar francesa e europeia no Mali vai acontecer nos próximos "quatro a seis meses", segundo o chefe de Estado francês Emmanuel Macron. Desde o início da operação Barkhane, morreram 53 franceses no combate ao terrorismo na região.
Fousseyni Ouattara, membro do Conselho Nacional de Transição, órgão que substituiu o Parlamento, dissolvido pela Junta Militar no poder, congratula-se com a retirada. "Hoje, os malianos estão muito felizes. Mas chamamos a atenção da França e dos europeus para o facto de não concordarmos com o prazo fixado pela França para Barkhane deixar o solo maliano, ou seja, seis meses. Queremos que as forças francesas abandonem o território do Mali no prazo máximo de 30 dias", sugere.
Já Modibo Soumaré, presidente da plataforma que congrega as forças políticas na oposição, lamenta a retirada das forças Barkhane e Takuba do Mali. "É uma decisão realmente infeliz. É evidente que, para nós, a defesa do nosso território é, antes de mais, da responsabilidade das nossas forças de defesa e segurança. É também evidente que, perante uma guerra assimétrica, a assistência dos nossos parceiros é essencial. Esta retirada surge especialmente num contexto difícil, o que não tranquiliza", conclui.
A decisão da França e dos aliados surge após múltiplas obstruções das autoridades de transição malianas impostas as tropas estrangeiras. As partes garantem que vão continuar o combate ao terrorismo, mas nos países vizinhos, no Sahel.
Alemanha acompanhará a França?
A Alemanha ainda não claro se vai ou não acompanhar a decisão francesa e dos aliados. A ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, mostra-se cética. "Tomámos conhecimento da decisão da França de deixar o Mali e de pôr termo ao seu compromisso, o que, naturalmente, tem repercussões para os parceiros. A questão é saber se atingimos os nossos objetivos políticos, ou seja, quem apoiamos e quem treinamos. Deve ser procurada urgentemente uma solução se faltar a "capacidade francesa", disse.
Em maio, o Parlamento em Berlim deverá decidir se o exército alemão vai ou não continuar naquelas duas missões. O exército alemão está envolvido no Mali através de duas missões: 328 soldados participam na Missão de Formação da União Europeia no Mali (EUTM) e 1.170 soldados na Missão Multidimensional de Estabilização Integrada das Nações Unidas no Mali (Minusma).
O Canadá e os Estados europeus que operam ao lado da operação Barkhane e no seio da operação Takuba consideram que as condições políticas, operacionais e jurídicas não estão reunidas para continuar o atual compromisso militar", pode ler-se numa declaração conjunta publicada na quinta-feira (17.02).
No entanto, os líderes africanos lembraram que continua a ser necessário agir nesta região do Mundo para travar o terrorismo.