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Mali rompe acordos militares com França e União Europeia

bd | AFP | Lusa
3 de maio de 2022

Junta militar no poder anunciou que não quer continuar a cooperar com os parceiros europeus, citando "violações flagrantes da soberania do Mali". Decisão é aplaudida por apoiantes de uma maior aproximação à Rússia.

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Operation Barkhane in Mali
Foto: Philippe De Poulpiquet/MAXPPP/dpa/picture alliance

As forças militares do Mali parecerem estar dispostas a afastar-se de vez do Ocidente e a oficializar a Rússia como novo parceiro principal. Na noite desta segunda-feira (04.03), a junta militar que assumiu o poder no Mali através de um golpe de Estado anunciou que rompeu os acordos de defesa com a França e os parceiros europeus.

Numa declaração feita na televisão estatal, o coronel Abdoulaye Maiga, porta-voz do Governo, anunciou que o Executivo não quer mais continuar a cooperação militar com os franceses: "Dadas as graves deficiências e violações flagrantes da soberania do Mali, o Governo decidiu denunciar o tratado de cooperação em matéria de defesa de 16 de julho de 2014".

Esta denúncia, para a qual também invocou "múltiplas violações" do espaço aéreo do Mali, concretiza uma ameaça formulada há semanas e constitui uma nova manifestação da degradação das relações entre as autoridades dominadas pelos militares e os antigos aliados do Mali no combate a milicianos.

As autoridades malianas rompem também os Acordos do Estatuto das Forças, que fixam o quadro jurídico da presença no Mali das forças francesas Barkhane e europeia Takuba, bem como em matéria de defesa concluído em 2014 entre o Mali e a França, declarou ainda o porta-voz do Governo, na televisão nacional.

"Desde há algum tempo, o Governo da República do Mali constata com mágoa uma deterioração profunda da cooperação militar com a França", sublinhou Maiga.

Em particular, citou a "atitude unilateral" da França durante a suspensão em junho de 2021 das operações conjuntas entre as forças francesas e malianas, o anúncio em fevereiro de 2022, "ainda sem qualquer consulta da parte maliana", da retirada das forças Barkhane e Takuba, e as "múltiplas violações" do espaço aéreo maliano pelos aparelhos franceses, apesar da instauração pelas autoridades de uma zona de interdição aérea sobre uma vasta parte do território. 

Mali Bamako Anti Frankreich Pro Russland Protest
Retrato do Presidente russo, Vladimir Putin, num protesto em fevereiro para celebrar a retirada das tropas francesas do Mali.Foto: Florent Verges/AFP

Apoio crescente à Rússia

A decisão foi aplaudida por uma corrente da sociedade civil que defende uma maior aproximação do Mali à Rússia. Siriki Kouyaté, figura proeminente do movimento Yéréwolo, celebrou a decisão agitando uma bandeira russa em Bamako: "O Governo explicou ao povo que não podemos avançar sozinhos. Por isso, aplaudimos que a Rússia e o Mali estejam a estender a mão um ao outro para poderem travar a batalha. Podemos sentir a sua presença, porque podemos comprar-lhes armas"

O jornalista maliano Abdoulaye Guindo explica porque é que O apoio à Rússia tem vindo a crescer no Mali. "Quando se pergunta às pessoas porquê, respondem que é porque nos últimos nove anos a missão francesa não conseguiu trazer segurança às regiões norte e centro do país", explica o jornalista maliano Abdoulaye Guindo. "As pessoas querem experimentar diferentes opções e acreditam que os russos podem fornecer a solução".

A denúncia destes acordos levanta questões quanto às suas repercussões sobre a retirada em curso, designadamente da Barkhane, anunciada em fevereiro. Esta importante e perigosa operação, ao fim de nove anos de envolvimento, deve prolongar-se entre quatro e seis meses.

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