Mali: Ex-ministro da Defesa nomeado Presidente de transição
21 de setembro de 2020O novo Presidente transitório do Mali, Ba N'Daou, que deverá servir o país como chefe de Estado durante vários meses, antes de os civis regressarem ao poder, foi nomeado esta segunda-feira (21.09) pela comissão criada pela junta no poder desde o golpe de Estado que derrubou o Presidente Ibrahim Boubacar Keita, no mês passado.
O anúncio da nomeação do antigo ministro da Defesa maliano, um coronel reformado, para conduzir a transição política no país foi feito pelo chefe do Comité Nacional de Salvação do Povo (CNSP), o coronel Assimi Goita, que foi designado vice-presidente de transição, segundo informou o próprio num noticiário especial transmitido na televisão nacional.
Ambos os cargos foram escolhidos pelo comité de transição criado pela junta que incluía os seus membros e representantes de partidos políticos, grupos civis e religiosos.
"A cerimónia de juramento [tomada de posse] terá lugar na próxima sexta-feira, 25 de setembro", afirmou o coronel Goita. A Ba N'Daou caberá a tarefa de nomear um primeiro-ministro, de acordo com um quadro definido pela junta para guiar a transição.
Este anúncio surge após várias semanas de disputas entre os malianos sobre a natureza civil ou militar do poder no período de transição, e da pressão recorrente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre a junta para uma rápida nomeação de personalidades civis.
Ba N'Daou, de 70 anos, é um antigo piloto de helicóptero treinado na ex-União Soviética que foi assessor do General Moussa Traoré, o ditador que governou o país durante 22 anos até 1991, que morreu na semana passada.
Um ex-militar e um militar aos comandos
A 16 de setembro, os líderes dos países da África Ocidental aceitaram uma transição política no Mali de 18 meses, em vez de um ano, pedida pela junta militar, que assumiu o poder após o golpe de Estado que ocorreu no dia 18 de agosto, com uma condição: que o presidente e primeiro-ministro fossem civis.
A nomeação do líder da junta que tomou o poder, anunciada pelo próprio coronel Assimi Goita, poderá, por isso, ser rejeitada pela comunidade internacional.
Entre as decisões acordadas em Acra, durante a cimeira extraordinária de dirigentes do bloco regional, que contou com a presença do chefe do CNSP, Assimi Goita, consolidou-se também a reivindicação, repetida em várias ocasiões, de que o CNSP "se dissolvia imediatamente após instalado o período de transição".
O movimento M5-RFP, o maior grupo de oposição ao regime do agora ex-presidente Ibrahim Boubacar Keita, afastou-se do plano de transição acordado após três dias de diálogo nacional, entre outros motivos, para não limitar a uma personalidade civil os cargos de presidente interino e primeiro-ministro.
Os líderes regionais receiam que o golpe possa abrir um precedente perigoso na África Ocidental e permitir que as forças jihadistas com laços com a Al Qaida e a organização terrorista designada Estado Islâmico tomem mais terreno na região do Sahel.
O golpe de 18 de agosto surgiu após várias semanas de grande instabilidade no país, com protestos em massa e tumultos nas ruas liderados por multidões exigindo a renúncia de Ibrahim Boubacar Keita, no cargo desde 2013.