1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Malawianos vão hoje às urnas apesar da Covid-19

rl | mc | Silja Fröhlich | Mirriam Kaliza | AFP
23 de junho de 2020

Há estações de lavagem das mãos nas mesas de voto no Malawi, mas há relatos de que não se observa o uso de máscara nem a distância de segurança. "As pessoas querem mesmo votar, quer tenhamos coronavírus ou não."

https://p.dw.com/p/3eBZw
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Chikondi

O Malawi volta, esta terça-feira (23.06), às urnas para eleger o seu Presidente. É um dia histórico no país, pois trata-se da primeira vez que umas eleições têm de ser repetidas devido à anulação do escrutínio anterior por ocorrência de fraudes.

Depois das eleições de 19 de maio de 2019, a Comissão Eleitoral proclamou o Presidente em exercício, Peter Mutharika, o vencedor com 38,6% dos votos, seguido de Lazarus Chakwera, com 35%.

No entanto, e após denúncias da oposição, o Tribunal Constitucional anulou, em fevereiro deste ano, a votação, confirmando a ocorrência de irregularidades graves, incluindo a utilização de fluido corretor nas folhas de resultados.

Esta terça-feira (23.06), um candidato terá de reunir mais de 50% dos votos para ser declarado vencedor, um novo limiar.

Chakwera otimista

Em entrevista à DW, Lazarus Chakwera, o principal adversário de Mutharika, diz estar otimista que as eleições inaugurarão uma nova era no país.

"O povo tem a esperança de que este país mude finalmente de direção e que comecemos a construir um novo Malawi. Um Malawi de que todos possam desfrutar e no qual todos possam ter o que precisam."

Chakwera, de 65 anos, conta com o apoio de nove partidos políticos na sua tentativa de destituir o Presidente Mutharika, de 80 anos.

Peter Mutharika: "Não podemos ajudar toda a gente"

Para além de Peter Mutharika, do Partido Democrático Progressista, e Lazarus Chakwera, do Partido do Congresso do Malawi, há um terceiro candidato às presidenciais. Trata-se de Peter Kuwani, do Movimento Mbakuwaku para o Desenvolvimento, mas que, dizem os analistas, tem poucas hipóteses de vencer.

Nova Comissão Eleitoral

A 8 de junho foi nomeada uma nova comissão eleitoral, tendo Chifundo Kachale substituído Jane Ansah como presidente.

Na semana passada, Kachale prometeu o maior empenho da sua parte e de toda a comissão "na realização de eleições credíveis, cujos resultados serão aceitáveis para todos os interessados."

Cerca de 6.6 milhões de pessoas estão registadas para votar esta terça-feira. As urnas abriram às 6 horas da manhã e devem durar 12 horas.

Votações em tempos de Covid-19

A repetição das eleições está a ter lugar no meio da pandemia do coronavírus, que matou 11 pessoas e infetou pelo menos 730 no país com 18 milhões de habitantes.

A comissão eleitoral forneceu estações de lavagem das mãos em cada uma das 5.000 mesas de voto para se precaver contra a propagação da Covid-19.

Na escola primária de Malembo, na capital Lilongwe, os eleitores lavaram as mãos com água e sabão antes de fazerem fila para votar, mas nenhum deles usou máscaras faciais ou manteve a distância na fila de espera.

"As pessoas querem mesmo votar, quer tenhamos coronavírus ou não", disse o eleitor Innocent Maguya à agência de notícias France-Press.

Malawi Wahlen
É a primeira vez que as eleições têm de ser repetidas no Malawi devido à anulação do escrutínioFoto: picture-alliance/AP Photo/T. Chikondi

"Preferimos arriscar a doença do que correr o risco de ter um presidente que as pessoas não querem. Não podemos impedir esta votação crucial porque não há máscaras faciais", afirmou o motorista de 34 anos, à espera de fazer a sua cédula.

Outros malawianos que vão às urnas no meio da pandemia, esperam que as eleições sejam um novo começo para o país. "Coisas boas estão para chegar. Este Governo estragou tudo e pôs toda a gente a chorar. Estamos à espera das mudanças que vão chegar com o novo Governo”, antevê o eleitor Owen Chimaliro.

"Tenho esperança de que, com estas eleições, o país volte ao normal. Que as empresas voltem ao seu pleno funcionamento, e talvez alguns de nós que viram os seus contratos serem rescindidos, possam recuperar os seus postos de trabalho", espera Gift Magunda, outro eleitor malawiano.

Protestos violentos

Conhecido como sendo um país pacífico, o Malawi foi palco, durante os últimos meses, de vários protestos violentos. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar, não só contra os resultados das eleições, mas contra a corrupção e a escassez de alimentos.

A Coligação dos Defensores dos Direitos Humanos (HRDC), uma das organizações que, a par com a oposição, tem liderado as manifestações, exige mudanças no país. Gift Trapence pertence à Coligação e diz que pouco a pouco as coisas já estão a mudar.

"Vimos o nosso Poder Judiciário ser independente e tomar uma decisão importante, especificamente sobre as eleições. Portanto, a nossa democracia está a amadurecer", reconhece Trapence.

Depois do Quénia, em 2017, o Malawi é o segundo país da África subsariana a cancelar os resultados de umas eleições presidenciais. O país, que é liderado desde 2014 por Peter Mutharika, ocupa o 123.º lugar entre 189 no Índice de Percepção da Corrupção e o 172.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano.