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Maioria dos seropositivos está na África subsaariana, conclui relatório da ONU

Noronha,Nuno23 de setembro de 2013

O relatório do Programa da ONU sobre o VIH/Sida indica 2,5 milhões novos casos da doença em todo o mundo. Nos PALOP, Cabo Verde continua a ser o país com menor incidência. Já Moçambique, alcança os valores mais altos.

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O relatório, divulgado esta segunda-feira, (23.09) aponta para que existam em todo o mundo cerca de 35,3 milhões de seropositivos, a maioria na África subsaariana. Os números continuam a ser negros, mas o documento aponta para uma queda nas infeções e no número de mortes. O médico brasileiro Luiz Loures, vice-diretor executivo da organização ONUSIDA, explica que na origem dos bons resultados está o envolvimento das cúpulas políticas e o investimento nos programas de prevenção e tratamento.

"Houve uma mudança fundamental na posição mundial em relação à epidemia da Sida em 2001 e a partir daí um compromisso mais forte do ponto de vista de recursos. Em 1996, o gasto global com a SIDA era cerca de 220 milhões de euros. Hoje, o gasto global é de pelo menos 12 mil milhões de euros".

A democratização do tratamento

Segundo o médico, a mobilização social é a grande responsável pelo combate à doença. Por outro lado, a democratização do tratamento veio facilitar. Explica que "quando nós começámos a tratar a Sida, no final dos anos 90, o gasto de tratamento por ano era de 12 mil euros por paciente. Hoje fazemos o mesmo com 75 euros. A redução dos preços foi fundamental e obviamente a mobilização das próprias pessoas que vivem com SIDA, que ativamente dentro das comunidades promovem o tratamento e a adesão", diz o médico Luiz Loures.

Entre 2001 e 2012, Cabo Verde manteve-se como o país lusófono africano com menor taxa de prevalência. São Tomé e Príncipe aparece logo a seguir com cerca de 1000 casos em 2012. Nestes dois países, assistiu-se ao recuar da epidemia, algo que não se verificou em Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau. Em Angola, os casos aumentaram para 2,3% em 2012. Na Guiné-Bissau, quase quatro em cada 100 pessoas está infetada. Mas é em Moçambique que os números são mais preocupantes: mais de 11 pessoas em cada 100 têm a doença, ou seja, são mais de um milhão e seiscentas mil pessoas a viverem com o vírus.

Moçambique compromete-se a inverter altos resultados

Luiz Loures explica que existe, no entanto, um compromisso de Maputo para inverter os números. "No caso de Moçambique, eu posso dizer que existe um compromisso ao mais alto nivel - inclusivamente do Presidente Guebuza, da sua equipa, do ministro da Saúde, de reverter esta situação. E isso dá-nos um alento muito positivo", acrescenta Luiz Loures.

Segundo o vice-diretor executivo da ONUSIDA, foi na África do Sul que mais se fez para combater este flagelo. No caso dos países em que a incidência aumentou, Luiz Loures aponta que na origem desse problema estejam características particulares da epidemia ou a falta de medidas para combater a doença. Porém, é necessária uma aposta conjunta, com um orçamento nacional e internacional, para pôr termo à Sida. O médico acredita que todos os países devem tentar perceber "quanto é que podem investir dos seus próprios recursos" para este combate. Diz que não se pode apenas "contar com o dinheiro internacional. Isso não é possível".

O fim da epidemia estará próximo?

O relatório da ONUSIDA conclui ainda que desde 2001 assiste-se a uma queda de 52% no número de infeções anuais pelo HIV entre as crianças e a uma redução de 33% no número de novos casos entre os adultos. Luiz Loures sugere que se está próximo do fim da epidemia. "Pela primeira vez na história da Sida em 30 anos, estamos a falar do fim da epidemia". Mas relembra que isto tem de ser construído baseado "no progresso que alcançámos, mas principalmente no compromisso redobrado do ponto de vista apolítico, financeiro, da mobilização social, porque estamos próximos do fim e isso deve ser uma razão para intensificar" a luta. Diz ser necessário "fazer face aos desafios o mais rápido possível e de uma forma concreta".

O documento indica ainda que, nos últimos dois anos, houve um aumento de 63% no acesso dos infetados a antirretrovirais e as mortes relacionadas com a doença, também de uma forma global, diminuíram 25% entre 2005 e 2011. Nos países mais pobres, o acesso aos medicamentos para prevenção e tratamento também aumentou.