1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Maior hospital da Guiné-Bissau em "colapso total"

Iancuba Dansó
12 de julho de 2024

Principal hospital guineense constitui "perigo" para os doentes, denuncia a Liga Guineense dos Direitos Humanos. A ONG alerta que quem procura hospital está condenado à morte, porque falta quase tudo no Simão Mendes.

https://p.dw.com/p/4iEe7
Foto: Iancuba Dansó/DW

O principal centro hospitalar da Guiné-Bissau constitui neste momento um atentado à saúde pública por falta de condições básicas para atender os doentes, denunciou esta sexta-feira (12.07) a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH).

A organização não-governamental (ONG), relata um conjunto de "irregularidades" e "perigo" que se vive no Hospital Nacional Simão Mendes (HSM), alertando que os doentes que procuram tratamento nesse centro de referência do país estão condenados à morte, devido à falta de assistência médica e à alegada negligência do Governo de iniciativa presidencial.

"O laboratório do HSM não tem materiais para o funcionamento. Não tem reagentes, não tem kits mínimos, nem álcool, nem luvas nem testes de despistagem nem bolsas de sangue ou película para o raio x", disse em conferencia de imprensa Bubcar Turé, presidente da Liga dos Direitos Humanos.

Segundo Turé, a urgência do Hospital Nacional Simão Mendes está neste momento paralisada, porque está com a falta de tudo: "Não tem medicamentos nem um papel A4, que qualquer cidadão pode comprar, mas que o Estado da Guiné-Bissau, de forma irresponsável, não pode comprar para registo da identificação e o histórico do doente".

Fábricas de oxigénio não funcionam

Bubacar Turé, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH)
Bubacar Turé, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH)Foto: Alison Cabral/DW

O ativista traçou um quadro mau do Simão Mendes.  o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé, denunciou ainda o não funcionamento de duas das três fábricas do oxigênio do hospital e diz que "a gestão da única que está a funcionar, construída pelo Estado guineense, foi entregue a um particular que, por sua vez, produz e vende o elemento químico ao hospital, ganhando somas avultadas em dinheiro".

De acordo com o presidente da LGDH, sete salas do departamento da medicina do Hospital encontram-se fechadas, porque os telhados estão esburacados e não conseguem, por isso, albergar os doentes e técnicos de saúde, nesta época das chuvas.  

Bubacar Turé diz que o bloco de cirurgia está inoperante, o serviço de ecografia fechado e casas de banho de diferentes serviços encontram-se fechadas por falta de condições, levando doentes, alguns em estado grave, a descerem de um piso para outro, para fazer as necessidades biológicas, além de ter denunciado ainda a situação "grave" nos serviços da pediatria e da maternidade do Simão Mendes.

Cobranças ilegais

"Na pediatria, há falta de técnicos, falta de medicamento na urgência, pondo em risco a vida das nossas crianças. Na maternidade é a mesma situação, a falta de medicamentos na urgência, o que provoca neste momento cobranças ilegais. O Governo decidiu, através de um despacho, isentar o pagamento da cesariana às mulheres, mas neste momento estão a cobrar a cesariana, porque a maternidade não tem qualquer tipo de medicamento".

Turé culpa o Governo guineense pela situação e recorreu a alguns exemplos para também denunciar a alegada corrupção que tem originado a falta de investimento e complicado a vida dos doentes.

O Hospital Simão Mendes enfrenta muitas dificuldades
O Hospital Simão Mendes enfrenta muitas dificuldades Foto: Gilberto Fontes

"Sem concurso público, o Governo decidiu contratar uma empresa fictícia, de forma não transparente, para fornecer alimentação ao hospital. Mas neste momento, sabemos que as finanças públicas desbloqueiam uma soma avultada a favor dessa empresa, que tem revelado uma incapacidade total para fornecer alimentação às enfermarias do Hospital Nacional Simão Mendes". denuncia.

Em 2020, um despacho conjunto dos Ministros a Saúde Pública e das Finanças decidiu que o Governo passaria a desbloquear, mensalmente, mais de 134 mil euros para a assistência ao Hospital Nacional Simão Mendes, de forma a permitir aos utentes o acesso gratuito aos serviços do maior centro hospitalar do país. Mas o presidente da LGDH diz que a realidade agora é outra, porque "o Governo, através do Ministério das Finanças, por razões desconhecidas, decidiu suspender a transferência dessa verba, colocando o Hospital Nacional Simão Mendes em situação de colapso total".

Bubacar Turé exige uma investigação sobre a gestão do Hospital e as razões da suspensão, pelo Executivo, dos fundos que eram destinados ao Simão Mendes. O Presidente da Liga não descarta a possibilidade de intentar uma queixa-crime contra o Governo, se a situação não for melhorada no Hospital Nacional Simão Mendes.

A DW tentou, sem sucesso, obter uma reação do Governo guineense sobre as denúncias.

Esta quinta-feira (11.07), diretores de diferentes serviços do Simão Mendes realizaram uma vigília no Hospital, para exigir as melhores condições de trabalho, lamentando "profundamente" a situação.

 

Liga Guineense defende consolidação da democracia no país