Macron em Bissau: Direitos humanos na agenda do PR francês?
28 de julho de 2022O Presidente da França, Emmanuel Macron, chegou na noite passada à Guiné-Bissau, onde está previsto na manhã desta quinta-feira (28.07) um encontro de trabalho com o seu homólogo guineense, no âmbito de uma visita inédita de um chefe de Estado francês ao país.
Macron foi recebido no aeroporto pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, que o acompanhou até ao hotel. Num trajeto de cerca de oito quilómetros entre o aeroporto internacional Osvaldo Vieira e o centro de Bissau, Macron e Sissoco, que seguiram em viaturas separadas, foram saudados por milhares de pessoas ao som de música e "vivas ao presidente da França".
Esta é a última etapa da deslocação do Presidente francês ao continente africano, depois de ter estado nos Camarões e no Benim.
Em entrevista à DW África, o vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Bubacar Turé, considera que "a visita é importante". Mas "só faz sentido se resultar em acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos".
DW África: Que temas é que a Liga Guineense dos Direitos Humanos gostava que fossem discutidos durante a visita?
Bubacar Turé (BT): Nós pensamos que é uma oportunidade única para o Presidente Macron interpelar o seu homólogo guineense sobre os compromissos internacionais assumidos pelo Estado da Guiné-Bissau no concernente à promoção e proteção dos direitos humanos, sobretudo nos domínios de exercício livre das liberdades fundamentais, porque o poder político atual tem enormes dificuldades de lidar com o exercício dessas liberdades.
Nos últimos dois ou três anos assistimos a retrocessos em todos os níveis no domínio dos direitos humanos, nomeadamente detenções arbitrárias, raptos e espancamentos dos cidadãos e intimidação de jornalistas. Além de ataques contra estações radiofónicas, incumprimento de decisões judiciais.
DW África: E que temas é que a Liga dos Direitos Humanos acredita que serão, de facto, discutidos?
BT: Sendo uma visita com uma enorme carga geopolítica, na minha opinião, creio que a situação securitária e diplomática da subregião, ou seja, ao nível da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], tais como da Mali, Burkina Faso e Guiné Conacri, serão objeto de discussões.
DW África: Pode haver uma maior participação de França na vigilância dos direitos humanos na Guiné-Bissau?
BT: Deve haver porque os direitos humanos são os valores fundadores da França. Nesta perspetiva, a França tem a dupla responsabilidade de, no quadro da sua cooperação bilateral com a Guiné-Bissau, colocar estas questões na sua agenda prioritária e condicionar até apoios financeiros com o respeito pelos direitos humanos e os princípios de Estado de Direito.
DW África: Na sua opinião, a que se deve esta visita? Serve de instrumento de propaganda do atual regime?
BT: A visita em si é importante para o país, na medida em que é a primeira de um chefe de Estado francês à Guiné-Bissau. Esta visita e demais outras que o atual regime tem promovido nos últimos tempos só fazem sentido se resultarem na assinatura e implementação de acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Ou seja, a redução da extrema pobreza, que é muito alta no país, a melhoria da capacidade de resposta no nosso sistema de saúde quase inexistente. O nosso sistema de ensino, as nossas infraestruturas, etc.
DW África: A Guiné-Bissau assumiu recentemente a presidência rotativa da CEDEAO. O que é que França pode alcançar com esta visita?
BT: A França está numa clara rota de colisão com vários países da subregião, que são as suas ex-colónias, e por conseguinte está a perder influência nestes países, o que permite os seus rivais da geopolítica, tais como a Rússia e a China, aumentarem as suas influências nesses países. É o que está a acontecer no Mali, por exemplo. Por isso, esta visita não deixa de ser uma oportunidade para a França tentar procurar apoios do Presidente Sissoco Embaló, na sua qualidade do presidente em exercício da CEDEAO.