Líbia: Traficantes fazem-se passar por funcionários da ONU
8 de setembro de 2018A Organização das Nações Unidas condenou este sábado (8.09) "relatos credíveis" de traficantes e sequestradores que se fazem passar por funcionários da ONU na Líbia para abordarem migrantes e refugiados desesperados e exigiu medidas para responsabilizar os criminosos.
Em comunicado, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) afirma que fontes seguras relatam casos em diversos pontos do país: "Estes criminosos foram avistados em pontos de desembarque e outros centros de tráfico usando coletes e outros itens com logotipos semelhantes ao do ACNUR".
A agência diz ainda que obteve informações sobre este problema também através de "refugiados que dizem ter sido vendidos a traficantes na Líbia e sujeitos a abusos e tortura, incluindo depois de terem sido interceptados no mar".
Em declarações à agência de notícias France Presse, o porta-voz do ACNUR, Babar Baloch, afirma, no entanto, que continua por esclarecer se os falsos funcionários da ONU conseguiram, com sucesso, enganar migrantes e refugiados, adiantando que a agência continua a investigar.
"Queremos que as autoridades vão atrás destas pessoas", disse Baloch, sublinhando que os falsos funcionários têm claramente "intenção criminosa" e atingem pessoas extremamente vulneráveis.
Situação agrava-se com confrontos em Tripoli
Mergulhada no caos após a queda de Muammar Kadhafi, em 2011, a Líbia tornou-se um ponto de passagem obrigatório para os migrantes da África Subsaariana que tentam chegar de forma clandestina à Europa. Os traficantes de pessoas aproveitaram-se do caos, pondo os migrantes africanos em risco. Muitos são interceptados ou resgatados no mar e acabam em centros de detenção em condições desumanas.
O ACNUR afirmou este sábado que, juntamente com os seus parceiros, está presente nos pontos de desembarque "para dar assistência humanitária de sobrevivência e apoio médico".
"Assim que os passageiros traficados regressam a terra, as autoridades líbias transportam-nos para centros de detenção geridos pela Agência de Combate à Imigração Ilegal", adiantou o ACNUR, acrescentando que os seus funcionários não prestam apoio a este transporte mas estão presentes nos centros para monitorizar a situação e dar assistência.
A agência da ONU diz que a situação dos refugiados e migrantes na zona de Tripoli se deteriorou significativamente nas últimas semanas, na sequência de confrontos violentos.
Na semana passada, o ACNUR ajudou a evacuar cerca de 300 migrantes do centro de detenção de Ain Zara para outro complexo a alguns quilómetros de distância, uma vez que o grupo corria o risco de ser vítima de fogo cruzado.
A organização Médicos Sem Fronteiras apelou entretanto à retirada de milhares de migrantes encurralados em centros de detenção em Tripoli, onde um frágil acordo de cessar-fogo foi negociado, na semana passada.
Estes não são, no entanto, os únicos centros em risco. O ACNUR afirma que recebeu relatos de "atrocidades inenarráveis" cometidas contra migrantes nas ruas da capital líbia, incluindo violações, sequestros e tortura.