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"Responsabilizamos o Governo por este ato de terrorismo"

António Cascais
2 de janeiro de 2023

Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) denuncia o espancamento do comerciante Ussumane Baldé, que foi raptado em plena baixa de Bissau. "Inação do Governo é uma confissão de cumplicidade com estes atos", diz a ONG.

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Guinea-Bissau |  Markt Guinea-Bissau
Foto: DW/I. Dansó

Na Guiné-Bissau, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) denunciou o espancamento do comerciante Ussumane Baldé, que foi raptado e seriamente ferido no passado dia 30 de dezembro, por desconhecidos, em plena baixa de Bissau.

Segundo a organização não-governamental, este "ato criminoso” junta-se à extensa lista de raptos e espancamentos com o objetivo de intimidar os cidadãos no exercício das suas liberdades fundamentais.

Em entrevista à DW, Bubacar Turé, vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, salienta que este episódio prova que a Guiné-Bissau "está a transformar-se numa república de milícias”.

DW África: O que aconteceu concretamente ao comerciante Ussumane Baldé?

Bubacar Turé (BT): O que aconteceu é que um cidadão nacional, comerciante e antigo ocupante do mercado central de Bissau foi raptado no dia 30 de dezembro e posteriormente espancado e abandonado por um grupo de homens armados e encapuçados que utilizaram uma viatura de dupla cabine, sem matrícula, nesta operação criminosa. E o comerciante, dias antes, foi uma das vozes críticas contra a forma como o mercado central de Bissau, agora reabilitado, foi concessionado a um cidadão estrangeiro.

DW África: O que se sabe sobre o estado de saúde de Ussumane Baldé?

BT: A informação que temos é que ele foi assistido num estabelecimento hospitalar e neste momento está de convalescença. Mas as imagens que circulam nas redes sociais são imagens de uma brutalidade incrível. Imagens que provam que, infelizmente, este país está a transformar-se numa república de milícias, que estão dispostas a implantar o terror, sobretudo contra quem assume a ousadia de desafiar, criticar ou de emitir opiniões contrárias aos interesses do regime vigente. Ussumane Baldé falou com alguns órgãos de comunicação social, incluindo estrangeiros, e o conteúdo das entrevistas não terá agradado a algumas pessoas. Por isso montaram esta operação criminosa contra ele que resultou no seu espancamento. Está neste momento num estado muito difícil.

Bubacar Ture | Stellvertemder Vorsitzende der Guineischen Liga für Menschenrechte
Bubacar Turé, vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos HumanosFoto: Iancuba Dansó/DW

DW África: A Liga Guineense dos Direitos Humanos responsabiliza o Governo por este ato de espancamento?

BT: Exatamente. Responsabilizamos o Governo por mais este ato de terrorismo contra cidadãos. Entendemos que a missão número um do Governo é garantir e criar condições de segurança aos cidadãos. Infelizmente o Governo tem se remetido sempre ao silêncio, o que prova inequivocamente a sua cumplicidade com estes atos. A sua inação é uma confissão de cumplicidade clara com estes atos e por isso responsabilizamos o Governo pela vida e integridade física, não só das vítimas, mas também de todos os cidadãos cujas vozes incomodam o regime vigente na Guiné-Bissau. Por isso, continuamos a exigir que o Governo assuma as suas responsabilidades, ordenando a abertura de inquéritos que culminem com a perseguição e identificação desses criminosos e a sua consequente punição exemplar.

DW África: O espancamento foi precedido de alguns protestos e descontentamento na área do mercado na baixa de Bissau, não é assim? O que é que está em causa concretamente?

BT: O mercado central de Bissau, mercado histórico, era ocupado por feirantes e comerciantes. O Governo da Guiné-Bissau, a uma dada altura, decidiu melhorar as condições deste mercado e, para o efeito, fez uma espécie de parceria público-privada com um determinado banco que financiou a reabilitação do mercado. Era suposto os antigos ocupantes do mercado serem convidados a voltarem para os seus espaços, porque é ali que exerciam as suas atividades comerciais, pagavam os seus impostos e sustentavam as suas famílias. E agora o mercado foi inaugurado pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e os antigos ocupantes acharam o processo injusto e criticaram a inauguração. Na sequência, Ussumane Baldé acabou por ser vítima [desses maus-tratos] por ter criticado a forma como o processo foi conduzido.

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