Leonor Lopes de Sousa: "Eu abraço os meus inimigos"
3 de agosto de 2023Em Moçambique, a Secretária-geral do Movimento Democrático de Moçambique, Leonor Lopes de Sousa, considera que há fraca participação da mulher na vida política do país, e como resultado nota-se o desequilíbrio na gestão em vários setores políticos, sociais, económicos e entre outros. E por isso diz que a luta é maior.
Em entrevista exclusiva à DW, a número dois do segundo partido da oposição moçambicana lamentou o facto dos partidos, incluindo o seu, terem uma pequena representação de mulheres. E por outro lado, faz uma radiografia geral à política nacional, tendo concluído que "o país está doente”.
Numa entrevista conduzida pelo correspondente da DW em Nampula, Sitoi Lutxeque, começamos por questionar sobre como avalia o espaço político para a mulher em Moçambique.
Leonor Lopes de Sousa (LLP): No nosso país, a mulher ainda tem muito que exigir para que seja considerada igual ao homem. No que diz respeito à qualidade, se conseguirmos um homem com qualidade e uma mulher até com mais (qualidade), Moçambique ainda precisa ainda muito mais para poder valorizar a mulher e para haver esta igualdade de género no nosso país.
DW: Em vários setores da sociedade, há pessoas que são pró e contra as lideranças. Sente que há pessoas que a contestam e se há, como lida com elas?
LLP: Com toda a sinceridade, até hoje, há homens que não conseguem encarar isto: ter uma mulher à frente deles. E eles subordinarem-se àquela mulher. Mas é um desafio. E como nós mulheres estamos a lutar para que os homens encarem as mulheres como um ser capaz de estar à frente deles, liderar e liderar bem. A única forma de eu lidar com essas pessoas é abraçando-as e mostrar que apenas juntos podemos trilhar o mesmo caminho. Eu não lhe vou estar a mentir ao dizer que todos gostam de mim. Isso não é verdade. Eu tenho que ser muito forte para lidar com este tipo de pessoas. Temos de saber abraçar os nossos inimigos ou as pessoas que não vão com a nossa cara.
DW: Aproximam-se as eleições autárquicas. Pelo menos nos três maiores partidos, nota-se fraca presença de mulheres nas listas. Como avalia esta situação?
LLP: É notória a fraca apresentação de mulheres como cabeças de lista. Mas temos muitas mulheres como candidatas. Estamos a trabalhar para que o número aumente. No passado, até tivemos um número reduzido, e desta vez, aumentámos. Acreditamos que nas próximas eleições, teremos ainda mais mulheres. É uma luta, um desafio, mas a mulher continua firme. E nós, que estamos na liderança, tentamos puxar as outras mulheres.
DW: Quais são as expectativas?
LLP: Nós vamos ganhar as eleições em muitas autarquias. Estamos preparados. O nosso foco é ganhar, é o objetivo. Os nossos cabeças de lista foram escolhidos com muito cuidado e são pessoas que sempre lutaram pelo partido, para o melhor para o povo moçambicano. Acreditamos que vão responder à realidade. Vamos ganhar. Temos essa esperança.
DW: Como avalia o estado atual de Moçambique?
LLP: O país está doente. Eu nunca imaginei que, com a idade que tenho, pudessemos estar a regredir tanto na educação, como na saúde e a pobreza que existe.
DW: O que é que está a falhar?
LLP: É a governação. A má gestão. A alta corrupção que existe. Tudo isto faz com que Moçambique, em vez de crescer, esteja a decrescer.