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Jovens de Angola despertam para exigir mais oportunidades, diz Bloco Democrático

9 de setembro de 2011

O secretário-geral do partido angolano Bloco Democrático, Francisco Filomeno Vieira Lopes, fala de lesões dos detidos. Ao mesmo tempo, a causa dos ferimentos dos policiais continua por provar.

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José Eduardo dos Santos está há 32 anos no poder em Angola
José Eduardo dos Santos está há 32 anos no poder em AngolaFoto: picture alliance/dpa

Deutsche Welle: Houve realmente agressões aos policiais por parte dos manifestantes como dizem as autoridades de Luanda?

Francisco Filomeno Vieira Lopes: Logo desde o início a defesa trocou os parâmetros do próprio julgamento no sentido de que não faz qualquer sentido julgar o direito à manifestação porque é um direito constitucional. Chegado a este acordo, a única acusação que fica é de que a polícia foi agredida e foi por esta razão que eles prenderam as pessoas. Foram ouvidos os arguidos e também os queixosos. Houve também intervenção médica para testemunhar se os ferimentos da polícia eram consistentes com as armas brancas, as pedras, que a polícia apresentou. A primeira questão que ficou em realce é que não há consistência entre os depoimentos da polícia e os ferimentos que apresentam. Não é claro que tenham sido feitos por aquelas pedras, segundo os próprios médicos. As histórias que a polícia conta também não são muito consistentes, porque em relação a perguntas feitas sobre a alimentação dos detidos, e se eles foram sujeitos a agressões, a polícia não confirmou, mas as provas são evidentes, porque as pessoas aparecem [no tribunal] com os braços, cabeças partidas e com lesões que foram efetuadas no interior das próprias cadeias.

Liberdade de imprensa ameaçada em Angola
Liberdade de imprensa ameaçada em AngolaFoto: Fotolia/erikdegraaf

DW: Os manifestantes detidos ficaram incomunicáveis já há vários dias.

Nós fizemos várias tentativas para identificar onde estão as pessoas detidas. Mas a polícia não esclarece onde as pessoas estão. Eles dão informações erradas, mentem. Exatamente para uma jogada de completo desgaste. E hoje de manhã, depois de muitas voltas, soubemos que se encontram na cadeia em Viana, a 60 quilômetros de Luanda, já com fundamento de presidiários. Não sabemos onde está o Américo Paulo Vaz. Está praticamente dado como desaparecido. Nesta cadeia de Viana estão 24 elementos. Aparentemente há três que ficaram na 2ª esquadra em Luanda.

DW: Sabe-se em que condições eles estão?

FFVL: Estiveram bastante mal. Eles apareceram sujos no tribunal, com ferimentos, sangue nas camisolas. E não tiveram contato nenhum com as famílias durante todo esse tempo. Apenas tomaram banho na quarta-feira para se apresentarem com roupa de presidiários. O mesmo está a passar-se com os presos que foram presos recentemente [por terem se manifestado em frente ao tribunal]. Eles não têm contato com ninguém. Eu próprio fui à cadeia e não consegui falar com eles. Há violação dos direitos dos presos, do direito das famílias de serem informadas, ou dos partidos políticos saberem o que se passa com os seus membros. O que está a acontecer aqui em Angola é uma tentativa de desgaste do movimento social e, sobretudo das forças políticas para deturpar, para que não consigam organizar-se para as próximas eleições.

DW: Acredita que as pessoas em Angola podem se sentir inibidas de realizar novos protestos por causa das prisões e de julgamentos como este?

FFVL: Eu penso que não. O país [Angola] não tem oferecido condições adequadas, sobretudo quanto ao direito à liberdade e à democracia. Estes são muito baixos em Angola. A grande parte da juventude não tem oportunidades. E isso é o resultado acumulado de uma situação que já se tem passado há bastante tempo. O que se nota é que há um despertar para este tipo de exigência. Parece-nos que há uma juventude que se quer manifestar efetivamente, então a polícia utiliza todos os meios brutais.

Autora: Bettina Riffel

Edição: Marta Barroso